Pesquisa

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Introdução aos Ensinamentos de Sidarta Gautama, o Buda (3) - SEGUNDA NOBRE VERDADE

SEGUNDA NOBRE VERDADE

II. A verdade da causa ou origem do sofrimento (Samudaya) 
    (desejo, ambição, anseio)


Causa do sofrimento

A Segunda Nobre Verdade é a que nos dá a possibilidade do conhecimento da Causa do Sofrimento (dukkha); da desar­monia entre o nosso eu ilusório e a Realidade. Esta Verdade nos ensina que o sofrimento, a existência, o eterno vir-a-ser é produzido pelo desejo, ânsia, sede ardente de satisfazer todas as formas de desejos ligados aos nossos sentidos, que continuamente procuram novas satisfações. Desta maneira o pensa­mento, sob a forma de desejo e ânsia em todos os seus aspectos, é uma força criadora que perpetua a continuidade da matéria na qual participa o processo do renascimento.

É essa sede de desejo, essa avidez que, manifestando-se de ma­neiras variadas, dá origem a todas as formas de sofrimento, assim como à continuidade dos seres. Porém não devemos considerar o desejo como sendo a primeira causa; segundo o budismo, não existe uma causa primeira; tudo é relativo e interdependente. Mesmo este desejo, que é considerado como a causa ou origem de sofrimento, depende em sua aparição de uma outra coisa, que é a sen­sação; e o aparecimento da sensação depende, por sua vez, do contato e, assim por diante, gira a roda da existência, designada pelo nome de Lei da Produção Condicionada ou da Causação Inter­dependente. 

Deste modo o desejo não é nem a primeira, nem a única causa do aparecimento de dukkha, mas, sim, a causa imediata, a causa prin­cipal que nossa mente pode conceber. Lembramos nesta síntese que o desejo tem por base a falsa ideia de um "eu" (eu pessoal), que surge da ignorância que mantém nossa aparente personalidade. A palavra "sede" compreende não somente o desejo e o apego aos pra­zeres dos sentidos, à riqueza e ao poder, como também às ideias, opiniões, teorias, concepções e crenças. Segundo a análise feita por Sidarta, todas as infelicidades, todos os conflitos do mundo, desde as pequenas discussões de família até as grandes guerras entre nações, têm suas raízes nessa sede de desejo. Os homens de Estado, que se esforçam por solucionar os conflitos internacionais falando de guerra e paz somente sob o aspecto político e econômico, só tratam daquilo que é superficial, não chegando, assim, à verdadeira raiz do problema. Como Sidarta disse a Rathapala: "O mundo sofre de frustração, ânsia e é escravo do desejo."

Os desejos apresentam-se sob as mais diferentes formas, a saber:

I. Desejo dos prazeres dos sentidos;
II. Desejo de autopreservação (existir e vir-a-ser); 
III. Desejo de não-existência (auto-aniquilação).

I. Desejo dos prazeres dos sentidos, em relação à visão, audição, olfato, paladar, tato e mente.

O desejo dos sentidos surge em conexão com um, ou mais, sen­tidos. O prazer não é a sensação nascida dos sentidos; uma pessoa pode ter prazer em uma sensação, ou pode ser indiferente a ela; por­tanto, o prazer depende da atitude mental da pessoa, que varia com os condicionamentos de costumes da família, do país, religião etc.

II. Desejo de autopreservação. 

O desejo de uma existência separada, individual ou egocêntrica é um dos mais fortes, porque todos nós temos o desejo de continuidade, o desejo de vir-a-ser, o desejo da existência de um ego e de que este suposto EU viva eternamente. Levado pela ilusão, o homem se delicia nos prazeres dos sentidos e no fato de sua existência - "eu existo" ou "minha existência" -, conceitua em ver as coisas como "minhas". Pela ilusão ele pensa: "o corpo é meu", "minha sensação", "meu pensamento", e não vê que a ilusão desta existência egoística é sofrimento. Pela ignorância, tem aversão a destruir os pensamentos de "eu" e "meu"; só reco­nhece que o desejo é sofrimento (Insatisfatoriedade), quando vê que também é Impermanência e Impessoalidade.

III. Desejo de aniquilamento. 

Apenas confirma a falsa existência do "eu", pois é baseado na ilusão da existência de um "eu" e "meu", ou pessoa que será aniquilada após a morte. Este desejo jamais leva à cessação da existência, pois para conseguir isto, torna-se necessário seguir um treino especial, isto é, trilhar a Nobre Senda Óctupla, ou Caminho do Meio.

Sermão sobre o desejo

"Feliz realmente é aquele que consegue satisfazer os desejos do seu coração. Mas quando não o consegue, o que então experimenta é a dor, como quando se é ferido por uma flecha.
Aquele que se acautela contra os prazeres dos sentidos, assim como faria para não pisar numa cobra, como fruto mesmo da permanente vigi­lância, evita o perigo dos desejos que possam ter conseqüências indesejáveis. Quem está sempre dominado pelos ardentes desejos de posse, terrenos, fazendas, ouro, gado, criados, mulheres, parentes etc., será finalmente derrotado pelos problemas e soçobrará, assim como o barco fendido quando invadido pelas águas.
Permanecei vós, portanto, sempre em vigilância, evitando os prazeres dos sentidos e libertando-vos do desejo.
Aliviando, pois, o barco de toda carga inútil, atravessai então a correnteza e atingi a segurança da outra margem - Nirvana." 


São quatro os elementos que sustentam a existência e continui­dade dos seres:

1. Alimento material comum.
2. Elemento de contato dos órgãos dos sentidos, incluindo nosso órgão mental com o mundo exterior (6 bases internas e externas). 
3. Elemento da consciência.
4. Elemento da volição mental ou Vontade.

Dos quatro elementos mencionados, o último - a volição mental - é o mais forte, pois engloba a vontade de viver, de existir, de continuar mais e mais. Tudo isto é a raiz da existência da continuidade, da luta que nos acompanha através dos bons e maus atos da vida. Sidarta, fazendo alusão à volição mental, diz: "Quando se compreendem os elementos que nutrem a volição mental, compreendem-se também as três formas de desejo." 

Segundo o budismo, o ser é somente uma combinação de forças ou energias físicas e mentais em fluxo constante. O que se chama de morte é somente a parada completa do funcionamento do corpo físico. Mas a vontade, o desejo, a sede de existir, de continuar, de vir-a-ser constituem a maior força existente que anima todas as vidas, todas as existências, o mundo inteiro. Essa força não se detém com a morte, continua manifestando-se sob outras formas, produzindo outras vidas, mas não será a continuidade de uma mesma vida (mesmo ser).

Assim os termos "sede", "desejo", "volição" têm todos, o mesmo sentido. Eles significam o desejo, a vontade de ser, de existir, de crescer cada vez mais, de acumular sem cessar. Esta é a causa do aparecimento do sofrimento - dukkha. Esse desejo se encontra no agregado das formações mentais, que é um dos cinco agregados que constituem um "ser". Portanto, a causa, o germe, o início do aparecimento do sofrimento encontra-se na própria mente do indivíduo que sofre, ainda que a causa pareça vir do exterior.

Carma

Pode-se admitir que todos os sofrimentos são causados pelo desejo egoísta, o que é fácil compreender. Mas como esse desejo, essa "sede" pode produzir a re-existência e o eterno vir-a-ser? Para isto é necessário compreender o aspecto filosófico da teoria do Carma e do renascimento, que constitui um dos princípios fundamentais da doutrina budista. 

A palavra carma (páli: kamma) significa literalmente "ato", ou "ação". Mas na teoria budista, carma tem um sentido específico: ex­pressa unicamente a ação volitiva, boa ou má, consciente ou incons­ciente. Cada ação volitiva produz seus efeitos, resultados, ou frutos. Um bom Carma, ou uma boa ação, produz bons efeitos; um mau Carma, ou má ação conseqüentemente, produzirá maus efeitos. O desejo, o querer, o Carma, bom ou Carma mau, tem por efeito uma só força, a força de continuar numa direção boa, ou má.

No budismo, o Carma é uma teoria de causas e efeitos, de ação e de reação. Pela volição, o homem age com o corpo, a palavra e a mente. Os desejos geram ações; as ações produzem resul­tados; os resultados trazem novos desejos, e assim sucessivamente. Este processo de causa e efeito, ação e reação exprime uma lei na­tural que nada tem a ver com a idéia de uma justiça retributiva (não há o conceito de pecado). É o simples resultado da própria natureza do ato, vinculado à sua própria lei de causa e efeito, o que é fácil de ser compreendido.

A teoria do Carma não deve ser confundida com a falsa concepção ou ideia de recompensa ou punição decretada por um Ser Supremo, um Legislador que julga e sentencia a natureza dessa ação. Justiça é um termo ambíguo e perigoso, e em seu nome fez-se mais mal do que bem à Humanidade.

O que é difícil de se compreender na teoria cármica é como os efeitos de uma ação volitiva podem manifestar-se, mesmo em uma vida póstuma. O Carma abrange tanto a ação passada; quanto a presente. Portanto, em um sentido, somos o resultado do que fomos e seremos o resultado do que somos. O presente, sem dúvida, é o resultado do passado e a origem do futuro, mas o presente não é sempre um ver­dadeiro índice, simultaneamente do passado ou do futuro, tão intrin­cada é a lei do Carma. Conforme semeamos, colhemos nesta vida, ou em um futuro nascimento. O que colhemos hoje foi aquilo que semea­mos, tanto no passado, como no presente. Carma, em si mesmo, é uma lei que opera no seu próprio campo de ação. As nossas ações passadas, cujos efeitos chamamos, hoje, nosso destino, influenciam o nosso pre­sente, mas possuímos livre-arbítrio completo e total, plena liberdade de ação.

O Carma do passado condiciona a atual condição e o atual Carma, e o livre arbítrio condiciona o futuro. A realidade do presente dispensa provas, pois é evidente por si mesma. O passado é baseado na memória e na referência, e o futuro na reflexão e na dedução.

Esta Lei do Carma explica o problema do sofrimento tanto indi­vidual como coletivo, e, acima de tudo, a desigualdade da Humanidade. O sofrimento é a conseqüência de alguma ação errada do passado, simplesmente isso, quer se trate de uma criança ou de um velho so­fredor. O sofrimento é o pagamento de nossas próprias dívidas.

O Bem-Aventurado disse:

"Os homens diferem pela diferença nas ações. Os seres têm seu patrimônio, o seu Carma; são herdeiros, descendentes, parentes, vassalos do seu Carma. O Carma classifica os homens em superiores e inferiores."

O venerável monge Piyadasi Thera observa: 
"Desta forma, a existência individual é uma sucessão de mutações, algo que toma forma e se desvanece, que não permanece igual, nem por dois mo­mentos consecutivos. Este organismo psicofísico, se bem que se transforma incessantemente, cria novos processos psicofísicos a cada instante e, assim, conserva a potencialidade de futuros processos orgânicos, não deixando nenhum vazio entre um momento e outro. Vivemos e morremos, a cada momento de nossas vidas. É só um aparecer e desaparecer como as ondas do mar."


"Estas mudanças na continuidade, que são evidentes para nós nesta vida, não cessam com a morte. O fluxo mental continua sem cessar, como a corrente elétrica que continua existindo, apesar de a lâmpada estar queimada e de a luz não se manifestar. Mas, instalada uma nova lâmpada, outra vez a corrente elétrica se manifesta, acendendo-a. É este fluxo dinâmico que se chama Carma."

Por alguns processos que nós só poderemos entender inteiramente quando tivermos nós mesmos alcançado a Iluminação, a força invisível gerada pela mente, quando ela é liberta do corpo e projetada para além da morte, agarra-se aos elementos do mundo material e deles, pelo processo natural de geração, molda uma nova forma de vida. Os elementos estão sempre presentes no mundo físico e entram juntos na disposição exigida quando a concepção tem lugar. É, contudo, a mente (o fator pouco conhecido e invisível) que dá à nova existência a sua individualidade. 

Esse processo do Carma é inseparável do processo paralelo de renascimento, porque o renascimento não é a reencarnação de uma "alma" depois da morte, porém, mais precisamente, a continuação da corrente de causa e efeito, na natureza. Nada há no Universo que não esteja sujeito a mudar; assim, não há entidade estática que possa ser chamada "alma", na aceitação geral deste termo. Esta ideia não é peculiar ao budismo, pois foi conhecida pelos filósofos desde o tempo de Heráclito, até aos psicólogos e neurologistas de nossos dias; mas foi deixada por Sidarta, por meio de sua iluminada sabedoria, ao des­cobrir como isto podia ser e ainda perceber que esse fluxo é, de fato, a base de um renascimento contínuo.

Renascimento do Nome e Forma

- "Nagasena, o que é que renasce? 
- O nome e forma (cinco agregados, fenômenos psicofísicos).
- É o presente nome e forma que renasce?
- Não. O presente nome e forma realiza um ato bom ou mal; em conseqüência desse ato, um outro nome e forma renasce. 
- Se não é o mesmo nome e forma que renasce, não estará ele liberto dos atos ou pecados anteriores do novo nome e forma?
- De fato seria assim, se não houvesse renascimento. Mas como há renascimento, assim não é.
- Dá-me uma comparação.
- Suponha que um homem furte mangas de um outro. O dono das mangas prende-o e o leva ao rei, acusando-o de roubo. Defende-se o acusado alegando: 'Não são as mangas deste homem que eu tirei; umas são as mangas que ele plantou, outras são aquelas que eu tirei; não mereço nenhuma punição!' Esse homem é culpado?
- Sim.
- Por quê?
- Apesar do argumento desse homem, as mangas que ele colheu são solidárias com as primeiras.
- Da mesma maneira, maharaja, quando o nome e forma executa um ato, bom ou mau, é este ato que determina o renascimento de outro nome e forma; não se pode dizer que este se tenha libertado dos atos ou pecados anteriores.
- Dá-me outra comparação.
- Um homem no inverno acende uma fogueira no campo. Ele se aquece, depois se retira, sem apagar o fogo que se alastra queimando a lavoura do vizinho. Este o prende e o leva perante o rei, acusando-o de ter incendiado sua lavoura. Se o acusado se defende argumentando: 'Não fui eu quem incendiou a lavoura deste homem. O fogo que deixei aceso, não foi o mesmo que se alastrou incendiando a plantação. Não devo ser punido.' Esse homem é culpado?
- Ele o é.
- Por quê?
- Apesar do seu argumento, o último fogo é solidário e relacio­nava-se com o anterior.
- Dá-se o mesmo com o nome e forma.
- Sem dúvida é outrem o renascido, mas nem por isso deixa de proceder de alguém que morreu. Portanto, não se pode dizer que esteja liberto de pecados anteriores." 

O que chamamos vida, já vimos, é a combinação dos Cinco Agregados, uma combinação de energias físicas e mentais que mudam incessantemente. "Quando os agregados aparecem, declinam e morrem, bhikkhus, a cada instante vós nasceis, declinais e morreis." Conse­quentemente, durante a vida nascemos e morremos a cada instante, no entanto, continuamos a existir. É como a chama de uma vela, que não é sempre a mesma, nem tampouco outra.

A Cadeia dos Renascimentos

- "Nagasena, aquele que renasce é o mesmo, ou um outro? 
- Nem o mesmo, nem um outro.
- Dá-me uma comparação.
- Quando eras criança, maharaja, uma tenra criança deitada sobre o dorso, eras o mesmo de hoje?
- Não, Venerável, eu era outro.
- Sendo assim, não tens nem pai, nem mãe, nem preceptor! Tu não te formaste nas artes, na virtude, na sabedoria. Haverá, então, uma mãe nova para cada novo estado do embrião, uma mãe para a pequena criança e outra para o homem feito? Um é aquele que se instruiu, outro aquele que se tornou instruído! Um o autor de um crime, outro aquele que recebe o castigo.
- Não, por certo, Venerável, e tu que me dizes?
- Já fui criança e agora sou homem, eu mesmo. O ser humano, em suas diversas fases, tem sua unidade no corpo.
- Dá-me outra comparação.
- Se acendemos um facho, este pode queimar a noite inteira?
- Sim, é possível.
- A última chama do facho é a mesma da hora anterior?
- Não.
- Há, então, uma chama diferente em cada hora?
- Não, o mesmo facho queimou toda a noite.
- Portanto a chama não é a mesma, e não é outra, da mesma maneira, maharaja, que o encadeamento dos Carmas é continuo; um surge quando outro desaparece, não há entre eles nem precedente, nem seguinte. Por conseguinte, não é nem o mesmo, nem um outro que recolhe o último ato de consciência.
- Dá-me uma outra comparação.
- Quando o leite transforma-se em coalhada, manteiga ou queijo, pode-se dizer que o leite fresco é o mesmo que o leite coalhado, manteiga ou queijo?
- Não, mas todos procedem dele.
- A mesma coisa se dá com o encadeamento dos Carmas."

Nossas ações não são perdidas, mesmo depois da morte. Após a dissolução do corpo, nossa atuação continuará produzindo seus frutos. "Isto, ó discípulos, não é vosso corpo, nem o corpo de outros; é preciso considerá-Io como obra do passado, tendo tomado forma, realizado pelo pensamento, tornado palpável." 
A causação gerada em nossa vida, como parte que é da causação universal, continua produzindo seus frutos mesmo após a desintegração do corpo. Em conseqüência da causação gerada no transcurso de uma existência, um novo ser renascerá futuramente em qualquer parte para continuação desta causação. Um novo ser, que é novo apenas em um certo sentido, mas que é o mesmo no sentido cármico, exatamente como o jovem que, saindo de uma universidade com o título de doutor, em um certo sentido, em relação à criança que vinte anos antes entrara nessa escola, é um outro ser, mas que no sentido da causação é, no entanto, o mesmo indivíduo.

A identidade da personalidade é dada pela continuidade; é uma continuidade semelhante àquela graças à qual identificamos um rio como entidade, muito embora a água que o constitui se renove sem cessar. A continuidade cármica é o rio de ação que constitui o indi­víduo e o identifica. Não se trata da transmigração de um ego eterno que salta de uma existência para outra. Sidarta refuta cate­goricamente o falso ponto de vista que quer perpetuar o eu e eternizá­-lo. Há apenas continuidade de Carma.

Assim, o renascimento não tem o sentido da imortalidade, mas apenas o de uma simples continuidade dentro da mutabilidade. Quan­do uma chama acende uma outra, nada transmigrou. Exatamente como a passagem da chama de uma vela, para o advento de uma chama em outra vela, é a passagem do Carma, do corpo já imprestável pela morte, para um novo agregado de ma­terial, adequado à continuação do processo [da vida, mas que em hipótese alguma é o mesmo eu].

Texto de Texto de Adalberto Tripicchio (adaptado)

Leia Mais:

Nenhum comentário:

Postar um comentário