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sábado, 8 de março de 2014

Budismo Esotérico (Mikkyo) - Parte 6


6. A Chegada do Budismo Esotérico no Japão
por Marcelo Prati (Renji)

Embora, sem dúvidas tenha chegado antes, oficialmente o Budismo tem sua entrada registrada no meio do século VI através do reino coreano de Paekche. Inicialmente, os poderosos clãs aristocráticos japoneses o receberam apenas como algum tipo de magia paralela às crenças xamanistas, superstições e práticas que já eram comuns. Numa época de grandes transições quando vários clãs se uniam e o poder político caminhava rumo à centralização na figura singular de um imperador (ou imperatriz), o modelo de organização governamental, de leis e regimentos foi todo importado da China. A cultura chinesa era largamente incorporada aos costumes japoneses e o Budismo entra em cena como parte disso. Como uma maneira de introduzir no Japão do período um sistema superior de linguagem poética, arte e pensamento filosófico.

Bodhisattva Kannon de Mil Braços
Símbolo da habilidade em exercer
a compaixão pelos seres vivos
Depois de muitas reviravoltas é estabelecido como religião oficial no século VIII (permanecendo assim até o século XIX). Nesse período, a exemplo do que ocorreu na China, o Budismo se torna mais aceito por seus aspectos ritualísticos do que pelo pensamento religioso. Inúmeras cerimônias eram oficializadas e a prática de encantamentos tornou-se largamente popularizada dentro do escopo do Budismo japonês de uma forma geral. A arte budista, a escultura e a pintura se desenvolvem grandemente e cerca de 150 esculturas da época ainda existem e dessas, cerca de quarenta são de divindades presentes nos sutras esotéricos. Contudo, os mandalas mais importantes ainda não eram conhecidos.

No período Nara (710-794 EC) considera-se que havia seis escolas que, contudo, não tinham divisões rígidas. Seus estudos eram conjuntos, sacerdotes de diferentes escolas viviam e trabalhavam nos mesmos templos. Esses sacerdotes, a maioria vindos de famílias aristocráticas, tendiam para a realização de rituais visando benefícios materiais para seus patronos nobres e para o estado. Com o tempo a prática de recitação de dhāraṇīs tornou-se largamente popular, o que começou a fomentar as lendas e o folclore sobre bênçãos e milagres através da recitação de encantamentos voltados para as divindades do panteão budista. Um dos primeiros grupos de praticantes esotéricos se chamava escola da Sabedoria Natural (jinenchi-shu), composta por sacerdotes de Nara que se retiravam para os monastérios nas montanhas para desenvolver suas habilidades de concentração e insight.

Bodhisattva Kokuzo
A manutenção da sabedoria
através da memorização dos textos
Uma prática que se considera capaz de desenvolver tais habilidades é a meditação da Estrela da Manhã (gumonji-ho), uma prática esotérica concentrada na figura do bodhisattva Kokuzo que também, segundo consta, é capaz de desenvolver amplamente a memória. O texto onde se encontra a descrição da meditação da Estrela da Manhã foi levado para o Japão em 718 pelo sacerdote de Nara, Doji, que o recebeu de Shubhakarasimha.

Separado do Budismo patrocinado pela corte, que se desenvolvia para seus próprios propósitos, o período Nara também contou com um tipo de Budismo espalhado por sacerdotes que, contrariando as ordens oficiais, abandonavam os templos para ensinar ao povo comum. Talvez um dos mais conhecidos desses seja Gyoji (668-749) da escola Hosso. Muitos dos monges das montanhas também possuíam algum tipo de vínculo com a população, o que alimentava lendas sobre poderes paranormais, de realizar curas mágicas, profecias, etc., e desses tais monges podemos destacar En-no-Gyoja, que viveu entre o século VII ou VIII, não se sabe ao certo. Apenas o corpo de lendas que cresceu ao redor de sua figura pelos séculos seguintes dá conta de como tais personagens eram vistos pelo imaginário popular. Profundamente associados com o Budismo Esotérico, sofriam oposição do estado que os considerava uma afronta ao sistema burocrático central que regulava rigidamente as ordenações monásticas. Esses movimentos independentes, contudo, cresciam no Budismo do período Nara e continuaram a se desenvolver ao longo de séculos seguintes.

continua...

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