Gautama começou a pregar suas ideias no Parque dos Cervos, em Isipatana - a atual Sarnath -, perto de Baranasi (Benares), a cidade sagrada dos brâmades na margem setentrional do Ganges. Precisando encontrar uma forma de transpor sua visão da origem dos sofrimentos, propôs uma prática e um modo de vida. Em seu primeiro discurso - O Giro da Roda do Dharma - no Parque dos Cervos, apresentou a lição crucial das Quatro Nobres Verdades.
Nesse discurso, descreve claramente seu despertar como consequência de haver identificado, empreendido e completado quatro tarefas:
- Conhecer a fundo o sofrimento
- Ignorar o desejo
- Vivenciar a cessação [do desejo]
- Cultivar o caminho óctuplo
Essas "Quatro Nobres Verdades" são as tarefas mais importantes que um homem possa realizar. Seria como naquele episódio de Alice no País das Maravilhas, quando depois de escorregar pela toca do coelho, Alice chega a um recinto onde há uma garrafa com o rótulo "Beba-me". Em vez de revelar o conteúdo, o rótulo informa o que a protagonista deve fazer com a garrafa. Do mesmo modo, as Quatro Nobres Verdades são um convite a fazer coisas, não um pedido para que se acredite nelas.
Buda mostra como cada verdade apresenta seu próprio desafio: o sofrimento deve ser plenamente conhecido; o desejo deve ser suprimido; a cessação deve ser vivenciada; e o caminho deve ser cultivado. As Quatro Nobres Verdades são sugestões para se agir de determinadas maneiras sob certas circunstâncias. Tal como Alice viu o rótulo "Beba-me" na garrafa e correu a ingerir seu conteúdo, a pessoa, ao se deparar com o sofrimento, deveria ler nele "Conhece-me" e aceitá-lo em vez de fugir dele. Ou, em vez de acatar as injunções do desejo para acolher ou repelir alguma coisa, imaginá-la murmurando "Suprima-me" - pois, assim, renunciará a ele e descansará tranquilo.
As Quarto Nobres Verdades são pragmáticas, não dogmáticas. Sugerem um curso de ação a seguir, nunca um conjunto de dogmas a adotar. Não descrevem a realidade, prescrevem normas comportamentais. O Buda se comparava ao médico que indica tratamentos para as nossas doenças: não o adotamos para chegar mais perto da "Verdade", mas para conseguir que nossa vida floresça aqui e agora, deixando um legado capaz de repercutir beneficamente mesmo depois de morrermos. Tomar semelhante caminho é pura questão de escolha.
Fonte: Confissões de um Ateu Budista
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