Semana passada tive uma experiência transcendente!
Aconteceu quando comprava ração para gatos (estou começando a contribuir para uma ONG). Ao colocar a compra na cesta do mercado ocorreu-me uma espécie de insight que me levou a pensar nos animais que tiveram que dar suas vidas para a preparação daquele produto.
Então ao chegar em casa concluí que todos nós, inexoravelmente, sofremos e geramos sofrimento aos demais e ao meio ambiente.
Exemplos:
O grampo de roupa vem de uma árvore que foi destruída;
Para usufruirmos de energia elétrica, milhares de bichos morrem diariamente e outros milhares morreram devido ao represamento das usinas;
A casa em que moramos está no lugar de uma biodiversidade aniquilada;
Quando andamos de carro estamos matando o meio ambiente aos poucos;
Nosso esgoto polui rios, etc.
Tudo em prol de nosso "conforto".
Para usufruirmos de energia elétrica, milhares de bichos morrem diariamente e outros milhares morreram devido ao represamento das usinas;
A casa em que moramos está no lugar de uma biodiversidade aniquilada;
Quando andamos de carro estamos matando o meio ambiente aos poucos;
Nosso esgoto polui rios, etc.
Tudo em prol de nosso "conforto".
Neste dia percebi claramente que todos temos nossas contradições! Essa ração que comprei continha seres que se sacrificaram para que gatos pudessem sobreviver. Isso é contraditório! Porque acabei matando uns pra salvar os outros, o que tornou aparentemente minha boa ação nula, já que todas as vidas são iguais.
Só sei que cheguei a sentir vertigem quando essa percepção se abriu diante de meus olhos; toda aquela alegria de ir ajudar gatos e cachorros meio que se esvaziou. Certamente foi uma experiência espiritual, que aprofundou um pouco mais em mim a verdade da interdependência e do sofrimento.
Ao mesmo tempo em que fiquei triste, creio que notar estes paradoxos foi um passo importante para que, à partir daquele momento "mágico", procurasse minimizar ao máximo o sofrimento alheio, mesmo que isso venha a me custar a própria privação. Este é o desapego - pensar no coletivo; ajudar, mas com participação efetiva na conduta diária, na seleção de alimentos, otimização e economia de recursos e na redução de danos que diariamente o ser humano causa, tanto em ações, quanto em palavras.
A "visão" também me mostrou que não há acepção ou privilegiados no universo, sendo assim, devo aceitar o sofrimento que me é imposto, pois impreterivelmente também causo dor ao mundo.
Olá Sandrão,
ResponderExcluirLendo seu poste lembrei de um dia em que estava sentado na escadaria da UFPR e um cara que faz teatro veio conversar comigo. Quando disse que fazia Sociais, ele começou um papo a respeito de que todos consumimos, inclusive oxigênio, e que não há nada demais em consumir. Na hora fiquei meio confuso absorvendo o que me dizia e depois pensei que havia uma diferença entre consumo e consumismo. De fato, precisamos consumir para viver, ou sobreviver, por outro lado, fazer do consumo um estilo de vida, que não respeita o ritmo de reposição da natureza, que ignora as condições sociais de produção das mercadorias, a exploração de trabalho que ela implica, o desigualdade entre aqueles que se beneficiam desse "conforto" e aqueles que apenas sustentam o "conforto" dos outros... É uma coisa bem diferente.
Outra coisa que pensei enquanto lia seu post foi num livro do Isaac Singer, chamado Amor e Exílio. Em um momento do livro ele questiona por que Deus deu à natureza unhas, espinhos, dentes, veneno, ferrões, etc.
Não sei se a natureza tem uma moral, ou diversas morais, mas sei que ela constrange a moral, ou morais, humana. Porém, e me perdoe o truísmo, parece uma condição humana que o humano tenha uma moral humana. Talvez nossa condição biológica nos impila a romper com nossa mônada psíquica e moralizar nossas relações, por mais contraditória e hipócrita que pareça nossa moral.
Todo mundo fere e todo mundo chora.
Moralizamos para justificar ou evitar a dor, estabelecemos solidariedade e acabamos servindo a um coletivo. Coletivos unidos sobrevivem melhor que outros coletivos, mas indivíduos egoístas ou individualistas sobrevivem melhor que outros indivíduos...
Abraços,
A.
Oi Alisson, saudades de seus comentários!
ResponderExcluirPois é, criamos uma moral, uma anestesia que ignora a verdade da causalidade. O insight, no fundo, mostrou-me que não há ação boa ou ruim, não existe esta dualidade; o budismo é muito enfático nisso e me convence, os extremos são ilusórios, vazios.
Pensar deste modo é ir além da moral. Porém, desencapsular-se assim é também destruir uma série de outras ilusões, como a da busca da felicidade e da satisfação pessoal, por exemplo.
Pra terminar, um ensinamento de Buda:
"O nascimento acompanha a morte. A fortuna acompanha o infortúnio. As más coisas seguem as boas coisas. O homens deveriam compreender isso. Os tolos temem o infortúnio e lutam para conseguir a felicidade, mas aqueles que buscam a Iluminação devem transcender a ambos e estar livres de todos os apegos mundanos."
Um abraço!