Capítulo 5 – As Ervas
Parte 1 – A nuvem, a chuva e as plantas
Parte 1 – A nuvem, a chuva e as plantas
Buda faz uma comparação que envolve ervas, nuvem e a chuva com os
seres, o Tathagata e sua Palavra, respectivamente. Existem vários
tipos de vegetais, como árvores, arbustos, gramas, etc. A nuvem
despeja uma mesma água sobre todos, porém cada um cresce segundo
sua característica e vigor, dando flores e frutos. Da mesma forma o
Buda derrama sua Palavra a todos os seres, independentemente das suas
características, visando a felicidade dos mesmos, os fazendo aspirar
pelo nirvana, reconhecendo as diferenças e capacidades de cada um. O
Iluminado procede desta forma a fim de que os seres alcancem a
Liberação, o Desapego, a Cessação e o Conhecimento.
Assim como a nuvem sobrevoa diferentes tipos de ervas, das mais rasas
às mais robustas, e dispensa a água, essencial para a vida, sobre
todas, para que cada uma se desenvolva de acordo com sua espécie; o
Buda “adapta” sua Essencial Palavra de acordo com as
características e limitações de cada um, pois, apesar do
ensinamento ser o mesmo, Ele sabe que se mantivesse a mesma
estratégia sempre, muitos ficariam confusos e se afastariam ainda
mais da Iluminação. Um Buda conhece mais as peculiaridades de cada
ser do que os próprios seres, conhece seus pensamentos e virtudes,
carências e faltas.
Parte 2 – A parábola do homem cego de nascimento
Na sequência, Buda fala sobre um homem cego que pensava não existir
cor, planeta, estrela, Sol ou Lua. Um dia, um médico, que acreditava
que a origem de todas as enfermidades está relacionada com o ar, a
bílis e a fleuma; movido de compaixão, decidiu curar aquele homem
com as quatro ervas do Himalaia, a saber: “A que possui as
possibilidades de toda cor e sabor”, “A que livra de toda e
enfermidade”, “A que destrói todo veneno” e “A que outorga a
felicidade”. Com estas plantas, o médico curou o deficiente visual
através de alguns procedimentos “cirúrgicos” e também
misturando compostos destas ervas na comida e na bebida do enfermo. O
homem curado, conseguindo ver as cores, as estrelas, a lua e as
demais coisas, lamentou-se não ter crido na existência destas
antes. Entretanto, uma vez enxergando, começou a jactar-se,
julgando-se superior aos outros.
Então, alguns Rishis, que eram peritos na realização da visão
divina, audição divina, leitura da mente e outros poderes
“mágicos”, ao verem o homem vangloriar-se, o censuraram,
dizendo que este apenas tinha recobrado a visão, mas que não
atingira ainda a sabedoria (que é uma visão muita mais ampla do que
visão natural).
O homem aceita a persuasão e pergunta qual é o meio de se alcançar
a sabedoria; os Rishis o aconselham a procurar a vida ascética e a
meditar no Dharma, abandonando todos os desejos pelos prazeres do
mundo. Assim aquele homem procedeu e alcançando as Cinco faculdades
Extraordinárias, pensou:
“Devido aquele karman que eu havia acumulado nenhum atributo
havia sido alcançado por mim. Eu agora vou para onde eu queira e
antes eu era um homem de escassa inteligência, escassa experiência,
eu era um cego” (página 214 -
K135)
Parte 3 – Explicação da parábola anterior
O cego de nascença representa os seres presos no Samsara, ignorantes
e desconhecedores do Dharma, que sofrem por decorrência de suas
próprias ações (samskaras). Segundo as palavras do próprio texto:
“[...] o grande médico representa o Tathagata […] o ar, a bílis
e a fleuma representam a paixão, o ódio e o erro […]. As quatro
ervas representam a Vacuidade, o Estado isento de causas, o Estado
isento de finalidade e o acesso ao Nirvana.” Os Rishis são os
Bodhisattvas que desejam que os seres desenvolvam a Mente de
Iluminação.
Com as ervas os seres fazem cessar a ignorância (Teoria dos Doze
Membros do Surgimento Condicionado) e com isso deixam de produzir
samskaras. O cego que recobra a visão, representa o veículo dos
Shravakas e dos Pratyekabuddhas; liberto da ignorância primeira,
acredita já estar no Nirvana e não precisar mais avançar
espiritualmente. Porém, o Bhagavant o incentiva a se aprofundar
ainda mais nos Ensinamentos, a fim de enxergar a realidade em sua
Essência Vazia, como uma miragem e com onisciência para entender as
inclinações e propensões dos seres, com o objetivo de ajudá-los.
“Aquele em quem a mente de Iluminação surgiu (isto é, um
Bodhisattva), em razão de sua sabedoria já não está no samsara e,
em razão de sua compaixão o que o leva a ajudar os outros seres,
tampouco está no Nirvana.”
Nota 313 do capítulo (página 216)
Leia mais:
Nenhum comentário:
Postar um comentário