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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Sutra do Lótus - Resumo capítulo por capítulo - Cap 03

E o resumo do Sutra do Lótus continua com o capítulo 3. Como e a quem se deve pregar o Dharma?

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Capítulo 3 – A Parábola dos Meninos Salvos do Incêndio

Parte 1 – Conversão de Shariputra

Depois das últimas palavras do Bhagavant sobre o Veículo Único, Shariputra externa sua alegria por perceber-se livre da ignorância; expondo como sua vida errante tornou-se correta, consciente, agradável e moral. Shariputra reconhece-se como o iminente Tathagata Padmaprabha (Resplendor do Lótus), o qual, anunciado por Shakyamuni, deverá pregar o Dharma e constituir uma Sangha próspera. Buda, então, afirma que Padmaprabha preanunciará um outro Tathagata chamado Padmavrishabhavikramin (De grande heroísmo e o melhor do lótus), que garantirá a firme conduta da Comunidade após a extinção de Padmaprabha. O Bem Encaminhado ainda “prevê” que esta fase de prosperidade da Sangha não perdurará para sempre, pois a Verdadeira Doutrina será “substituída” pela “falsa aparência do Dharma”. Shariputra, ao ouvir a “profecia”, toma consciência de sua responsabilidade e pede ao Buda permissão para pregar e esclarecer os monges.
Concluindo essa parte, abro aqui um parêntesis: será que não estaríamos vivendo um destes períodos de declínio (falsa aparência) em que o materialismo e o relativismo moral (em que tudo é justificável) têm prevalecido não só na sociedade, mas também nos meios religiosos?

Parte 2 – A Parábola dos Meninos Salvos do Incêndio

Buda propõe uma parábola a fim de orientar Shariputra a utilizar-se da Habilidade dos Métodos (conceito discutido no capítulo 2) para a propagação do Dharma.
A parábola conta a história de um pai - dono de uma grande casa de madeira, suja e de estrutura podre com teto de palha - que percebendo um incêndio em seu imóvel, tenta salvar seus filhos que ali brincavam. As crianças, mesmo em meio ao fogo, não notavam o perigo e continuavam a brincar e rir. O homem até pensou em pegá-las nos braços e retirá-las dali, porém a inquietude dos jovens e a estrutura da casa o impediam de assim proceder, frente a esta impossibilidade, começou a chamá-los, porém em vão; seus filhos continuavam a brincar, não compreendiam nem mesmo o significado da exclamação “está se incendiando”.
A dificuldade fez o homem pensar em algum meio para resgatar seus queridos. Como conhecia os pensamentos e as inclinações destes, resolveu dizer que os brinquedos mais divertidos estavam do lado de fora da casa. A “técnica” funcionou todos deixaram a casa rapidamente.
Vendo seus filhos a salvo, o homem muito se alegrou, entregando aos jovens não os “brinquedos prometidos”, mas carruagens muito mais opulentas e belas; veículos dotados de bastante velocidade e força, todos de uma mesma cor e de um mesmo tipo, não mais puxados por cabras ou cervos como eles imaginavam, mas somente por bois. O homem assim agiu devido ao sentimento de equanimidade com seus descendentes, e estes, por sua vez, se sentiram deslumbrados com os presentes.
Terminada a parábola, o Bhagavant pergunta a Shariputra se o homem houvera mentido às crianças. Shariputra responde que não, pois se não tivesse empregado o meio hábil, as crianças teriam morrido e não teriam sido presenteadas. Pois com a salvação da vida as crianças na realidade receberam “todos os brinquedos”. Com efeito, mesmo que o homem não tivesse dado nada para as crianças, as teria salvo do sofrimento, do que por si só seria um grande ganho; porém, mais do que isso, as presenteou com as carruagens, todas de um mesmo tipo e cor.

Parte 3 – Explicação e Aplicação da Parábola

O homem simboliza o Tathagata, o Perfeitamente Iluminado, “livre de todo temor, libertado de tudo, em tudo, de todas as formas, de todo infortúnio, desespero, aflição, sofrimento, desalento, da obstrução produzida pelo véu da cegueira proveniente da treva e da obscuridade da ignorância. O Tathagata está dotado das Qualidades Especiais dos Budas: o Conhecimento, a Força, a Confiança em Si Mesmos […] possui a Grande Compaixão, é de mente incansável, é benevolente, compassivo” (página 154 – K77). O fogo é o sofrimento e o desalento; os seres submetidos ao fogo encontram-se atormentados pelo nascimento, velhice, enfermidade e morte, pela dor, lamento, apegados aos prazeres sensuais, experimentam a decepção e acabam recaindo nos mundos inferiores. Submetidos a esta 'casa incendiada', não percebem o estado em que estão, “se regozijam, saltam de um lado para o outro […] golpeados por essa grande massa de sofrimento, não fazem surgir a ideia de voltar sua atenção para o sofrimento” (página 154 – K78).
O Tathagata quer salvar seus filhos do sofrimento para que gozem de felicidade e obtenham o Conhecimento próprio dos Budas, libertando-os das delusões. O Buda não precisa usar de força, pois ele tem a Habilidade dos Métodos, que quando empregada liberta os seres dos Três Mundos (raiva, ganância e ignorância), oferecendo-lhes magníficos e grandes veículos. Para que as crianças deixem a casa, o Tathagata primeiramente oferece os Veículos provisórios (Sharavakas, Pratyekabuddhas e Bodhisattvas) dizendo assim:

Não vos regozijeis nos Três Mundos, semelhantes a uma casa incendiada, com as formas, os sons, os odores, os sabores, os contatos, de tão escasso valor. Regozijando-vos nestes Três Mundos, estais ardendo, sois atormentados, sois torturados pela sede do desejo pelos cinco tipos de objetos dos prazeres sensuais. Escapai desses Três Mundos! Conseguireis os Três Veículos: O Veículos do Sharavakas, o Veículo dos Pratyekabuddhas e o Veículo dos Bodhisattvas! […] aplicai-vos neles para encontrar a saída dos três mundos […] com eles vós brincareis, gozareis e vos divertireis imensamente. Com as Faculdades e Poderes, com os Elementos constitutivos da Iluminação, com as Meditações, as Liberações, as Concentrações da Mente, [assim] estareis dotados de grande felicidade e alegria” (página 155 – K79).

Os Três Veículos provisórios são utilizados em vista da própria realização e do próprio Nirvana. Já a carruagem adornada com joias, ou seja, o Grande e Único Veículo, é dado aos filhos para que estes atinjam o Conhecimento, Força e Confiança em Si Mesmos, com o intuito de buscarem, antes da realização pessoal, o Nirvana Supremo de todos os seres. O Tathagata procede desta forma porque respeita a capacidade de seus ouvintes, se pregasse diretamente o Veículo Único, não salvaria seus filhos das chamas do sofrimento. Assim, os Veículos Provisórios são apenas uma primeira etapa, a libertação do apego pelo entendimento das Quatro Nobres Verdade, contudo, há ainda um outro degrau a subir, a Suprema Iluminação.
Na reiteração da parábola em versos é possível vislumbrar outros detalhes sórdidos da casa de madeira, como excrementos, odores, fantasma famintos, animais peçonhentos e demônios assombrando lugar, todos representando os Mundos Inferiores e os sofrimentos.

Parte 4 – A quem se deve pregar ou não o Sutra do Lótus

Encerrando o capítulo, Buda orienta Shariputra a selecionar quem merece ou não ouvir o Sutra.
O Sutra não deve ser pregado aos arrogantes e orgulhosos, que não desejam a Disciplina e que teimam em dizer que o prazer sensual é o significado de suas existências. Aqueles que desprezarem o Dharma e agredirem os monges cairão no Inferno de Avichi, renascerão como animais esquálidos, incapazes de domar seus instintos e serão objeto de zombaria e repugnância. Quando renascem como homens, nascem mutilados e coxos, corcundas tortos e apáticos. Apresentam mau hálito, odor e chagas, são servos de outrem; não se curam nunca de suas enfermidades e, por isso, não conseguem jamais discernir o Dharma. Vivem no Inferno e acreditam que não há outro modo de vida além do que habitualmente exercem. Não enxergam a impermanência e a inconstância dos fenômenos, acreditando em conceitos de eternidade da alma.
Todos estes malefícios não devem ser interpretados como maldições. Na realidade, os infortúnios são meramente consequências das próprias ações (karma) dos seres que se afastam da Sabedoria.
Por outro lado, o Sutra do Lótus deve ser ensinado aos “inteligentes e instruídos, dotados de autoconsciência”, propensos em fazer o bem e agir moralmente. Aquele que tiver este espírito virtuoso, receberá o Sutra e será encaminhado à Suprema Iluminação.

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