por Marcelo Prati
1. Budismo é religião?
Sim. É um sistema religioso de investigação da realidade.
2. No budismo há um conjunto claro de regras de conduta?
Sim. A forma mais básica são os 5 preceitos que tanto leigos quanto monges seguem. Simplificando, são eles:
a) Não matar nem causar a morte através de terceiros;
b) Não roubar nem fazer com que alguém pegue algo que não te pertence em seu lugar;
c) Não engajar-se em relações sexuais fora de uma relação de compromisso estável nem envolver-se em comportamento sexualmente aberrante, nem incentivar;
d) Não usar a fala com intenção de enganar, nem dar a entender algo que não é verdadeiro;
e) Não ingerir substâncias que prejudiquem a clareza mental, nem incentivar.
3. O Buda era um deus?
Não. Ele era um ser humano comum. Nasceu, cresceu, envelheceu. Sentia fome, dor e cansaço como um ser humano comum. Aos 80 anos foi servido de um cozido que por acidente continha um cogumelo venenoso. Faleceu com uma fortíssima infecção intestinal, certamente agravada pela fragilidade de sua idade avançada. Não voava, não ficava invisível, não teleportava, nem era imortal.
4. O budista é ateu?
Na falta de um termo mais adequado, sim. Seria contudo, uma forma de ateísmo desprovida de materialismo. Não há deuses ou criaturas mágicas invisíveis flutuando numa bolha dimensional fazendo barganha em troca de adoração, mas possui seu sistema de análise metafísica.
5. Então não há milagres ou intervenção divina no budismo?
Não.
6. O budista reza ou ora?
Não. Recitações servem, em parte, como método de estudo, memorizando o texto e seu sentido. Por isso, ao longo dos séculos, cada vez que o budismo chegava em um país, iniciava-se um exaustivo trabalho de tradução que contava com a ajuda de filósofos, monges e até mesmo leigos. A recitação deve ser na língua nativa do praticante para que ele possa, por razões óbvias, entender o que está sendo lido.
Se a questão é sobre os mantras, eles não são palavras mágicas. São um tipo de chave mnemônica cuja função é trazer à tona estados mentais e conceitos previamente estudados. Assim como os textos, é algo a ser compreendido e não repetido como um murmúrio sem sentido. O que passa disso é superstição.
7. O budismo então é niilista?
Não. A expressão "Caminho do Meio" denota justamente uma postura onde nem a crença numa existência eterna e nem a confiança na aniquilação total é considerada adequada. É o caminho onde não se cai nem na mentira do eternalismo, nem no engano do niilismo. Há de se compreender o que isso realmente significa.
8. E a reencarnação é uma doutrina budista?
Não. Um dos conceitos básicos no budismo é o de que não há existência permanente, nem alma, nem algum tipo de substância eterna na consciência ou fora dela. Consequentemente, a ideia de transmigração perde o sentido, pois não há nada para reencarnar ou nenhuma personalidade que resista depois que os elementos que formam nosso corpo se separam.
9. Então por que eu vi textos falando de renascer como fantasma, animal, humano, etc?
9. Então por que eu vi textos falando de renascer como fantasma, animal, humano, etc?
O conceito de renascimento não tem nada a ver com transmigração. Os mundos onde se renasce representam estados mentais favoráveis ou desfavoráveis que devem ser abandonados ou cultivados e a atenção que se deve dar ao fato dessa mudança constante que acontece dentro da mente e não fora dela.
10. Se não existem seres mágicos, nem recompensa futura ou castigo divino, se não se resume a ter boa sorte e nem é um sistema de auto ajuda, o que é ser budista, afinal?
10. Se não existem seres mágicos, nem recompensa futura ou castigo divino, se não se resume a ter boa sorte e nem é um sistema de auto ajuda, o que é ser budista, afinal?
Muito mais simples do que se pode pensar, é transformar o que se aprendeu em ação. É tomar refúgio nas Três Joias, viver os Cinco Preceitos e o Caminho do Meio. O resto é conversa fiada.
. . .
DRAGONETTI, Carmen. TOLA, Fernando (trad.). Digha Nikaya, Diálogos Mayores de Buda. Fundación Instituto de Estudios Budistas. Buenos Aires, 2005.
GNANARAMA, Pategama. Essentials of Buddhism. Buddhist and Pali College. Singapura, 2000.
GNOLI, Raniero (org.). La Rivelazione del Buddha, vol.2. Ed. Mondadori. Milão, 2010.
WALEY, Arthur. Did Buddha Die of Eating Pork? Institut Belge des Hautes Etudes Chinoises, Bruxelas, 1932.
WALEY, Arthur. Did Buddha Die of Eating Pork? Institut Belge des Hautes Etudes Chinoises, Bruxelas, 1932.
YOSHINORI, Takeushi (org.). A Espiritualidade Budista, vol.1. Ed. Perspectiva. São Paulo, 2006.
Nossa, achei simplemente fascinante o budismo, tem preceitos simples e objetivo e é altamente evoluído em relação a outras religiões
ResponderExcluir