Mais um sutra totalmente em português. Eu já tinha citado algumas partes aqui no blog, mas finalmente está completo.
Baixe em formato PDF no site oficial da Tendai Hokke Ichijo-Ryu:
Que os méritos e virtudes deste trabalho
adornem a Terra Pura do Buda Amitabha,
retribuam as quatro grandes bondades superiores
e aliviem o sofrimento daqueles que estão nos mundos inferiores.
Possa quem ver ou ouvir sobre tais esforços
despertar a aspiração pela Iluminação,
devotar sua vida ao Dharma do Buda
e finalmente renascer na Terra da Suprema Bem Aventurança.
Homenagem ao Buda Amitabha!
Marcelo Prati (Upasaka Pundarikakarna/Renji)
. . .
Sutra da Total Aniquilação do Dharma Proferido pelo Buda
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Traduzido do sânscrito para o chinês por uma pessoa desconhecida.
Traduzido do chinês para o português pelo Upasaka Pundarikakarna no verão de 2014.
Assim ouvi. Naquele momento o Buda estava em Kuśinagara e faltavam apenas três meses para seu Parinirvāṇa. Junto com ele estavam monges e bodhisattvas. Muitos vieram até o local onde o Buda estava e curvaram suas cabeças aos seus pés. Porém o Honrado Pelo Mundo permaneceu imóvel, não proferiu nenhum ensinamento e sua radiância luminosa não mais era emitida.
O Venerável Ānanda então curvou-se em reverência e dirigiu-se ao Buda dizendo, "Honrado Pelo Mundo, antes e depois de ensinar o Dharma uma poderosa emanação luminosa era sempre vista, mas agora a Grande Assembleia não mais vê tal manifestação. Por que isso acontece? Deve haver uma razão!"
O Buda, porém, permaneceu em silêncio. Apenas após ser questionado pela terceira vez o Buda dirigiu-se a Ānanda [e disse], "Após o meu nirvāṇa, chegará o tempo em que o Dharma será aniquilado e extinto. As Cinco Faltas Mortais1 tornarão o mundo turvo2 e o Reino de Māra prosperará. Demônios se tornarão monges para deteriorar meu caminho e torná-lo confuso. [Esses monges] serão apegados a roupas comuns e vão deleitar-se com kaṣāyas de cinco cores.3 Eles beberão álcool e comerão carne, tirando vidas pela ganância de seu sabor. Neles não haverá [verdadeira] compaixão e serão odiosos e invejosos uns com os outros. Contudo, naquele tempo também haverá bodhisattvas, praticantes solitários e arhats que se esforçarão no cultivo de méritos, em tudo sendo respeitosos e pacientes e as pessoas que se submeterem à disciplina serão guiadas [por eles] sem distinção. Terão piedade dos menos favorecidos e se lembrarão dos mais velhos, ajudando a erguer os que sofrem de suas adversidades. Eles sempre orientarão as pessoas a honrarem os sutras e as imagens. Farão votos de gerar méritos de virtude e bondade. Não causarão dano aos seres humanos, renunciando a si próprios em prol dos outros seres vivos. Não serão orgulhosos nem pouparão esforços sendo pacientes e gentis, agindo assim com todas as pessoas.
[1119a05]
"Mas os monges servos de Māra, cheios de inveja, arquitetarão maldades para caluniá-los, expulsando-os de onde estiverem, não permitindo que fiquem em um único lugar. Nenhum desses monges vai dar seguimento às práticas das virtudes budistas. Os templos budistas serão como mausoléus4 abandonados e nunca mais se recuperarão dos danos sofridos. Somente preocupados em acumular bens e posses, [esses monges] não incentivarão a prática de atos meritórios. Negociarão bens, terão escravos e serviçais que lhes cultivarão os campos, [garantindo-lhes o sustento sem esforço]. Vão atear fogo nas montanhas e florestas5 ferindo os seres vivos, sendo completamente desprovidos de compaixão. Seus escravos serão aqueles que querem se tornar monges e suas serviçais serão aquelas que querem ser monjas. Não cultivando as virtudes budistas, serão depravados e indisciplinados, não distinguindo os homens das mulheres6. Dessa maneira farão com que o Budismo se torne inconsistente e insípido para todos [que queiram aprender].
[1119a10]
Alguns, para evitar a condenação de alguém, o farão tornar-se monge. Vão se considerar Śrāvakas, mas sem praticar a disciplina e as regras da moralidade. A cada período lunar eles repetirão os votos dos Preceitos, mas vão agir com indolência e não desejarão ouvir o Dharma. Eles vão omitir partes dos sutras, desconsiderando aqui e ali, não querendo ensinar o texto inteiro, nem terão o hábito de recitar os sutras. Ainda assim, mesmo que alguém os leia, nem sequer uma palavra ou frase será entendida. Haverá aqueles de palavras fortes e consistentes, mas [os monges de Māra] não consultarão os mais esclarecidos por serem orgulhosos e só buscarem fama [ao invés do Dharma]. Não serão objetivos [em suas falas], mas terão trejeitos suaves e elegantes, pois querem ser homenageados e receber oferendas.
[1119a15]
Quando chegarem ao fim de suas vidas, os monges servos de Māra afundarão no Inferno Avici por terem cometido as Cinco Faltas Mortais, renascerão como Fantasmas Famintos e Animais sofrendo tudo que causaram por uma quantidade de kalpas iguais a quantidade de grãos de areia do Ganges. E no dia em que suas faltas se esgotarem eles renascerão em terras distantes onde os Três Tesouros não existam.
[1119a17]
Quando cessar o desejo pelo Dharma, as mulheres farão esforços constantes para gerar méritos7, mas os homens serão indolentes e não dando ouvidos ao Dharma. Vão considerar os monges como a escória do mundo e serão incapazes de ter uma mente capaz de confiar.
[1119a19]
Quando o desejo pelo Dharma declinar chegará o momento em que todos os Reinos Celestiais chorarão. O período das secas8 será descontrolado e os Cinco Tipos de Grãos9 não amadurecerão. Vapores mortíferos se espalharão [pelo ar] causando a morte de muitos. As pessoas comuns sofrerão duras punições sob o jugo dos governantes, que se oporão aos princípios do Caminho. Todos pensarão apenas em prazeres e distrações. As pessoas más serão tantas quanto as areias do oceano. Em compensação, as pessoas boas serão extremamente escassas, talvez uma ou duas.
[1119a23]
Quando esse kalpa estiver se exaurindo, os dias e noites serão mais curtos e a vida passará cada vez mais depressa. Aos quarenta os cabelos já serão brancos. Os homens serão devassos e sua energia vital vai se exaurir muito cedo, viverão no máximo até aos sessenta. Os homens viverão menos, mas a vida das mulheres será mais longa. Mesmo que cheguem a setenta, oitenta ou noventa, poucos chegarão aos cem anos de idade.
[1119a25]
Grandes inundações10 acontecerão de repente e serão imprevisíveis. As pessoas do mundo não terão mais um coração confiante e desejarão que a existência seja permanente. Dentre os seres sencientes não haverá mais diferença entre os de casta superior e inferior e todos se afundarão sendo arrastados [pela inundação] e devorados por monstros aquáticos.
[1119a27]
Naquele tempo, embora existam bodhisattvas, praticantes solitários e arhats, os monges servos de Māra vão expulsá-los e persegui-los não permitindo que participem das assembleias. Por isso os três tipos de praticantes adentrarão às montanhas11 cultivando práticas benéficas em prol da humanidade. Autocontrolados, eles serão felizes e contentes e a duração de sua vida será prolongada e os seres celestiais os guardarão e protegerão. Então o bodhisattva Candraprabha12 surgirá no mundo. Em sua companhia eles reerguerão o Budismo.
[1119b02]
Após um período de cinquenta e dois anos, o Śūraṃgama-sūtra13 e o Pratyutpanna-samādhi sūtra14 serão os primeiros a desaparecer e em seguida são se poderá mais consultar as doze divisões do cânone Budista, pois elas estarão completamente aniquiladas, nunca mais serão vistas, nem suas palavras lidas. [Neste momento, então] o manto monástico espontaneamente se tornará branco.15
[1119b04]
Quando meu Dharma cessar, será como uma lamparina cujo azeite está prestes a acabar. Sua luz é mais e mais brilhante até que de repente é totalmente extinta. Assim também será a aniquilação do meu ensino. Certamente, as dificuldades que virão serão incontáveis e se perpetuarão por muitos incontáveis milhares de anos.
[1119b07]
Maitreya então descerá no mundo como um Buda. Os vapores venenosos [de outrora] serão extintos e o mundo será próspero e pacífico. A chuva cairá suave fazendo os Cinco Tipos de Grãos crescerem exuberantes. As florestas crescerão novamente. Os seres humanos terão a altura de oito pés e a vida de todos vai durar oitenta e quatro mil anos. A quantidade de seres sencientes salvos será incalculável.”
[1119b10]
O Venerável Ananda fez uma reverência e dirigiu-se ao Buda dizendo, "Qual deve ser o nome deste sutra para que seja respeitosamente mantido na memória?"
O Buda então respondeu, "Ānanda, ele deve ser chamado de 'Sutra da Total Aniquilação do Dharma' e deve ser ensinado a todos e seu verdadeiro significado deve ser bem esclarecido. [Sua correta compreensão] vai gerar méritos incalculáveis."
Os quatro tipos de discípulos ouviram esse sutra com tristeza e desgosto e todos despertaram a aspiração pela Suprema e Excelsa Iluminação. Todos eles curvaram-se em reverência ao Buda e deixaram o local.
Este é o Sutra da Total Aniquilação do Dharma Proferido pelo Buda.
. . .
1 pañcānantarya; 五無間業 As cinco faltas mortais, parricídio, matricídio, assassinar um arhat, derramar o sangue de um Buda, destruir a harmonia da sangha.
2 濁世 Mundo poeirento ou lamacento. Numa referência a impossibilidade de se enxergar a realidade. Uma imagem interessante do mundo fenomênico coberto de uma camada de pó ou sujeira, assim não se vê suas verdadeiras características. A poeira é a ganância, o desejo descontrolado, a futilidade, falsidade, fraqueza ética e moral que deixa tudo desagradável e impossível de definir.
3 O número cinco na literatura Budista, simbolicamente passa por várias ideias e conceitos. Aqui, baseado nas regras budistas, os monges eram proibidos de usar vestes que fossem tingidas com as cinco cores primárias (na cultura local): azul, vermelho, branco, amarelo, preto.
4 O caractere usado aqui é o mesmo usado para descrever as tumbas imperiais onde os servos eram enterrados vivos junto com seus senhores. Ou seja, o Budismo estaria morto e enterrado e seus servos, os monges malignos e falsos estariam “sepultados” junto com seu mestre.
5 Achei curioso lembrar que as montanhas e florestas eram os locais onde ficavam os mosteiros. Vão prejudicar a capacidade de monges sinceros se agruparem, assim causando dano aos seres sencientes.
6 As mulheres ficavam separadas dos homens nos mosteiros. Também havia regras diferenciadas no trato entre homens e mulheres para os monges.
7 Seduzidas pelo ar de misticismo do falso budismo, elas se interessarão mais do que os homens. Considerava-se o sexo feminino mais suscetível a esse tipo de engodo enquanto o sexo masculino seria mais voltado à lógica e racionalidade, assim vão considerar tudo como inútil.
8 O Sutra do Lótus compara o Dharma com uma chuva que cai igualmente sobre todos.
9 Como dito acima, o número cinco, simbolicamente, permeia a literatura com vários sentidos. Com o cessar da chuva (do Dharma) os grãos, que são uma fonte de força e sustento, são os 五力 pañcabala, as cinco forças, ou cinco poderes que são, confiança, zelo, memória (ou lembrança), meditação e sabedoria, que deixam de florescer.
10 O mar, grandes águas são quase sempre símbolos do sofrimento ou confusão mental, medo e angústia. Vale lembrar que a Iluminação é chamada de "atravessar até a outra margem."
11 Ou seja, solitários, afastados da multidão num sentido de que não participariam das grandes congregações.
12 Candraprabha Bodhisattva (sct.), Gakkō Bosatsu (jap.), Yuèguāng Pusa (ch.), Bodhisattva Resplendor da Lua (pt.), é um personagem que também é visto ao lado de Nikkō Bosatsu (Bodhisattva Resplendor do Sol) e servem ao Buda da Medicina. O disco lunar que ele sustenta representa o conhecimento penetrante e as virtudes do Buda e simboliza a aspiração à Iluminação.
13 O Śūraṅgama Sūtra discute os conceitos de Yogācāra, Tathāgatagarbha e Budismo Esotérico. Faz uso de lógica budista, com seus métodos de silogismo e Negação Quádrupla (sct. catuṣkoṭi), popularizada por Nāgārjuna. Evidencia a obtenção da compreensão da causalidade e da destruição permanente das raízes da morte e renascimento, revelando a natureza da realidade última, ou seja, uma abordagem direta através da própria mente búdica. Simples entender o que significa "serem os primeiros a desaparecer."
14 O Pratyutpanna Samādhi Sūtra contém a primeira menção conhecida ao Buda Amitabha e sua Terra Pura, sendo dito que é a origem das práticas da Terra Pura na China. É um sutra Mahāyāna inicial, provavelmente escrito por volta do século I AEC na área de Gandhara, noroeste da Índia. A Terra Pura é a própria mente que brota do despertar da Natureza Búdica, a Verdadeira Natureza representada pelo Buda Amitabha. O desaparecer do sentido essencial do texto é a mesma coisa que o desaparecer do texto.
15 Branco era a cor das vestes dos seguidores leigos. Ou seja, na ausência de verdadeiros monges, só haverá seguidores leigos e eles tomarão a frente.
Ensinar que os monges budistas devem de casar é ser inimigo das 3 jóias. É seguir a influência moderna do laicismo das forças Kali Yuga (que tenta destruir o sentido do sagrado, do consagrado e do transcendente ao misturá-lo com o profano).
ResponderExcluirO budismo japonês é mesmo o mais degenerado de todos, e isto se deve em parte ao abandono do Vinaya, mas também as idéias de Shinran e posteriormente o governo Meiji, inimigo declarado do Budismo:
Edital 133, a nova Lei Saitai Nikujiku (肉食妻帯) onde o governo declarou que os monges budistas não eram proibidos de comer carne ou de se casar. Esta foi aprovada pelo novo governo Meiji no 5º ano de Meiji (1872).
Dharmananda "Mahacarya" está redondamente enganado nesta questão dos monges casados, e não tem moral para falar dos monges japoneses que comem carne ou bebem saquê, porque defende vergonhosamente, a tentativa do governo Meiji de desmoralizar e solapar a sangha monástica budista, igualando-a ao clero leigo xinto, taoista e confucionista.
A sua argumentação é do mesmo nível de quem critica o vegetariano dizendo que as plantas também sentem dor.
ExcluirQuem defende que os monges budistas devem ir contra o ensinamento do próprio Buda Gautama, afirmando que estes podem se casar e abandonar o celibato, é inimigo do Dharma e da Tradição. Pois está pregando que os monges (que são renunciantes ou shramanas) podem cometer a primeira ofensa parajika.
ResponderExcluirBasta perceber que mesmo os discípulos leigos budistas citados no Tripitaka, ou os bodhisattvas leigos como Vimalakirti e vários outros bodhisattvas do Sutra do Lótus, tomaram o voto de bramacharya devido a excelência de sua prática. Porque eram os melhores e mais excelentes entre os discípulos leigos do Buda.
Que os discípulos leigos budistas poderiam ampliar seus 5 preceitos, e tomar os 8 preceitos para o resto de suas vidas ou por um período determinado (retiro) se assim desejassem é fato inquestionável dentro da literatura e história budista.
Se até os leigos budistas tomaram o celibato para o resto de suas vidas (como abstenção de conduta sexual imprópria) para se libertarem dos grilhões da sensualidade, quanto mais os monges.
Dharmananda M. ensina que "os monges budistas japoneses passaram a se casar porque antes mantinham mulheres e filhos escondidos". Isto não passa de retórica barata, um tipo de mentalidade esquerdista anti-casta, que quer igualar tudo, laicizar tudo e nivelar por baixo porque a incapacidade de manter o voto de castidade (invirtude) é que se torna a regra, e não o contrário (virtude). Seu mestre, neste quesito, atenta contra o Dharma ensinado pelo Gautama, e ainda tem muito da mentalidade protestante.
ResponderExcluirDevido a este modernismo meiji dos inimigos do Budismo que ele adotou, ele não é mais capaz de informar a qual das quatro assembléias de discípulos ele pertence.
Que moral tem este sujeito para falar dos "monges" japoneses que comem carne ou bebem saquê, se tanto o casamento dos monges, quanto a possibilidade deles comerem carne e beberem bebida alcoólica foram todos aprovados pelo governo Meiji? Não é contraditório aprovar apenas alguns itens da reforma anti-budista e ir contra outros?
Se ele procura ser realmente coerente, ortodoxo, tradicional e fiel ao Dharma ensinado pelo Buda, que ele seja apenas um discípulo laico, um bodhisattva laico, que retire as vestes monásticas, e que não venha se dizer "monge (bhikshu)" ou "shramana", porque estes são títulos de pessoas renunciadas e um franco desrespeito às 3 jóias: Ao Buda, ao Dharma, e a todos os mestres e monges da história budista que renunciaram a vida mundana e mantiveram o voto de bramacharya porque respeitaram os preceitos e o ensinamento do Buda até o fim de suas vidas.
É ótimo saber que se pode identificar a opinião dele pra poder argumentar, contestar, discordar, debater... é uma coisa boa o fato dele escrever publicamente e se expor e abertamente falar de suas ideias. Acho que se ele lançasse argumentos oculto sob o anonimato eu não daria nenhum crédito.
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