Hoje é Shaka Jodo-ê, o dia da Iluminação do Buda histórico Shakyamuni, uma data comemorativa que celebra o dia em que o Buda alcançou o pleno despertar sob uma árvore (ficus religiosa) chamada de árvore Bodhi. Por acaso também é meu aniversário... (rs)
A Árvore Bodhi no Templo Mahabodhi, Índia. |
Deixo de presente pela ocasião a tradução de um sutra mahayana curto e curioso. Uma mensagem sobre como atingir a iluminação voltada especialmente para os leigos.
O Sutra da Iluminação
Tradução/adaptação para o português por Marcelo Prati (Pundarikakarna Upasaka)
Sendo um discípulo do Buda, deve-se lembrar disso dia e noite, compassivamente e diligentemente os seguintes oito preceitos que guiam os seguidores do Budismo Mahayana ao estado da Iluminação.
Primeiro:
A impermanência caracteriza tudo no universo. Ambos o perigoso e o frágil, assim como toda a Terra está sujeita à degradação. O corpo humano, analisado em seus quatro elementos principais, é insatisfatório e vazio. A combinação dos cinco agregados da existência não possui essência real[1]. Essa é a lei de que todas as coisas condicionadas surgem e desaparecem. Tudo se encontra num estado de mudança e degeneração. Não existe controle sobre o corpo e nem sobre os objetos do mundo. Consequentemente, a mente é a raiz do mal enquanto o apego aos objetos do mundo, o refúgio dos enganos e falhas. Observando todos os fenômenos deste ângulo, possamos pouco a pouco, libertar-nos do sofrimento do nascimento e morte.
Segundo:
Desejo excessivo gera o sofrimento. O sofrimento do nascimento e morte, assim como uma vida penosa são causados pela ganância. Poucos desejos e ausentes de anseio fazem nossa mente e corpo se acalmarem.
Terceiro:
As ambições insaciáveis buscam apenas por posses, assim aumentando a possibilidade de falhas. Aqueles que praticam o caminho do Bodhisattva nunca fazem tais coisas. Eles devem nutrir o contentamento na mente e tolerar a pobreza[2] seguindo a doutrina do Buda. Eles não buscam nada além de sabedoria.
Quarto:
Preguiça é a degradação de um homem. Uma pessoa deve sempre seguir em frente com toda a energia, para adquirir sabedoria. É apenas assim que alguém destrói todo o mal das preocupações e subjuga os quatro demônios, colocando-os sob seu controle de forma que possa escapar da prisão dos cinco agregados da existência e do samsara.
Quinto:
Ignorância gera o sofrimento do nascimento e morte. Seguidores do caminho do Bodhisattva devem se lembrar de manter o conhecimento seguro através de aprender ou ouvir, para que desenvolvam sua sabedoria e preparem sua eloquência para falar das escrituras budistas para quem desejar ouvir, dando a eles a grande felicidade.
Sexto:
Os mais pobres, muitas vezes alimentam o ódio e isso cria um ambiente ruim para todos ao redor. Na prática da caridade[3], os seguidores do caminho do Bodhisattva devem tratar amigo ou inimigo da mesma forma, com o mesmo grau de consideração[4], sem malícia nem sentimentos de repulsa por pessoas más.
Sétimo:
As cinco paixões se tornam falhas e aflição, assim os leigos não devem se macular com prazeres fugazes, ao invés disso, eles devem sempre pensar nos três tipos de vestes e tigelas de cerâmica assim como nos outros instrumentos usados por monges e sacerdotes[5]. No caso do desejo manifesto por leigos de tornarem-se monges, eles devem ser extremamente cuidadosos em observar as escrituras budistas e manter-se afastados da maldade. Assim, sua vida perfeita deverá ser conhecida por um longo tempo e nas mais distantes terras. Além disso, eles devem demonstrar uma profunda compaixão por cada criatura que sofre.
Oitavo:
A roda do nascimento e morte é como a chama que queima a casa. Há inúmeros sofrimentos. Primeiro devemos nos dedicar em serviço da humanidade, então esforçar-nos em sua ajuda e finalmente guia-los ao Nirvana, o estado ultimo da suprema bem aventurança.
Esses oito preceitos são o caminho que guia à iluminação dos Budas, Bodhisattvas e seguidores da escola Mahayana. Quando alguém busca as escrituras budistas com energia e perseverança, tal pessoa crescerá, pelo seu próprio bem, em compaixão e sabedoria ao mesmo tempo. Assim, se pode atingir a outra margem tomando a balsa do Buda. Através da compaixão, tal pessoa pode, assim como desejar, voltar atrás para a roda de nascimento e morte com uma meta e objetivo, a de liberar todos os seres.
Esses oito preceitos nos dão uma ideia geral do apego que guia ao sofrimento do ciclo de nascimento e morte e do abandono das cinco paixões para que se possa cultivar a mente e atingir o caminho.
Os discípulos do Buda devem incessantemente ler tais preceitos mencionados acima, abandonar as incontáveis falhas e adquirir a sabedoria, assim em breve atingindo a iluminação. Consequentemente, eles devem abandonar o sofrimento do renascimento e permanecer no estado de felicidade.
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[1] Alma, ego, ente permanente, etc.
[2] Ou seja, a aquisição de bens não é uma preocupação.
[3] O ato de ajudar os outros é uma das formas de se destruir a ganância. Os três tipos de caridade para o budismo são:
1. Doação de esmolas, que se dividem em dois tipos:
a) a oferta de um membro ou da própria vida, ou seja, do trabalho, esforço e dedicação para ajudar alguém.
b) ofertas de bens, ou seja, comida, abrigo, dinheiro, etc.
2. Oferta de conhecimento, também dividida em dois tipos:
a) Conhecimento mundano, ou seja, aquele usado para ensinar a ler, escrever, uma profissão, etc.
b) Conhecimento inconcebível, como ensinar a doutrina budista de forma a guiar os seres sencientes a produzir atos meritórios e evitar atos maléficos.
3. A oferta de ajuda e assistência com energia e sem medo, como auxiliar aqueles que são perseguidos por inimigos, torturados pela guerra, que foram roubados, perseguidos por animais selvagens, mergulhados em água ou fogo.
O Dictionary of Chinese Buddhist Terms (Hodous, William E. Soothill, Lewis.), resume os três tipos de doações em bens, doutrina e coragem (ou ausência de medo).
O Dictionary of Chinese Buddhist Terms (Hodous, William E. Soothill, Lewis.), resume os três tipos de doações em bens, doutrina e coragem (ou ausência de medo).
[4] “Assim como a rocha sólida não é sacudida pelo vento, assim não são os sábios movidos pela censura ou pelo elogio.” (Dhammapada c.VI v.81)
[5] Antigamente os monges se alimentavam apenas de doações. Chegavam às portas das casas e recebiam o alimento em suas tigelas de cerâmica. Esse costume ainda é mantido em alguns países do sudeste asiático.
Os três tipos de vestes eram:
1. uma roupa para as tarefas diárias;
2. uma roupa para as aulas e encontros de monges; e
3. uma capa para ocasiões especiais.
O ponto é a reflexão sobre o que é realmente necessário. Vestes adequadas e alimento na quantidade justa, nem mais, nem menos. A postura de acordo com a ocasião, o conforto na medida e o alimento que mantém o corpo saudável. Lembre-se que o Caminho do Meio é assim chamado por não estar nem na auto-indulgência nem na auto-mortificação. Nem no niilismo, nem no eternalismo.
[5] Antigamente os monges se alimentavam apenas de doações. Chegavam às portas das casas e recebiam o alimento em suas tigelas de cerâmica. Esse costume ainda é mantido em alguns países do sudeste asiático.
Os três tipos de vestes eram:
1. uma roupa para as tarefas diárias;
2. uma roupa para as aulas e encontros de monges; e
3. uma capa para ocasiões especiais.
O ponto é a reflexão sobre o que é realmente necessário. Vestes adequadas e alimento na quantidade justa, nem mais, nem menos. A postura de acordo com a ocasião, o conforto na medida e o alimento que mantém o corpo saudável. Lembre-se que o Caminho do Meio é assim chamado por não estar nem na auto-indulgência nem na auto-mortificação. Nem no niilismo, nem no eternalismo.
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