Pesquisa

domingo, 8 de dezembro de 2013

Sutra da Iluminação

Hoje é Shaka Jodo-ê, o dia da Iluminação do Buda histórico Shakyamuni, uma data comemorativa que celebra o dia em que o Buda alcançou o pleno despertar sob uma árvore (ficus religiosa) chamada de árvore Bodhi. Por acaso também é meu aniversário... (rs)

A Árvore Bodhi no Templo Mahabodhi, Índia.

Deixo de presente pela ocasião a tradução de um sutra mahayana curto e curioso. Uma mensagem sobre como atingir a iluminação voltada especialmente para os leigos.

O Sutra da Iluminação

Tradução/adaptação para o português por Marcelo Prati (Pundarikakarna Upasaka)


Sendo um discípulo do Buda, deve-se lembrar disso dia e noite, compassivamente e diligentemente os seguintes oito preceitos que guiam os seguidores do Budismo Mahayana ao estado da Iluminação.

Primeiro:
 A impermanência caracteriza tudo no universo. Ambos o perigoso e o frágil, assim como toda a Terra está sujeita à degradação. O corpo humano, analisado em seus quatro elementos principais, é insatisfatório e vazio. A combinação dos cinco agregados da existência não possui essência real[1]. Essa é a lei de que todas as coisas condicionadas surgem e desaparecem. Tudo se encontra num estado de mudança e degeneração. Não existe controle sobre o corpo e nem sobre os objetos do mundo. Consequentemente, a mente é a raiz do mal enquanto o apego aos objetos do mundo, o refúgio dos enganos e falhas. Observando todos os fenômenos deste ângulo, possamos pouco a pouco, libertar-nos do sofrimento do nascimento e morte.

Segundo:
Desejo excessivo gera o sofrimento. O sofrimento do nascimento e morte, assim como uma vida penosa são causados pela ganância. Poucos desejos e ausentes de anseio fazem nossa mente e corpo se acalmarem.

Terceiro:
As ambições insaciáveis buscam apenas por posses, assim aumentando a possibilidade de falhas. Aqueles que praticam o caminho do Bodhisattva nunca fazem tais coisas. Eles devem nutrir o contentamento na mente e tolerar a pobreza[2] seguindo a doutrina do Buda. Eles não buscam nada além de sabedoria.

Quarto:
Preguiça é a degradação de um homem. Uma pessoa deve sempre seguir em frente com toda a energia, para adquirir sabedoria. É apenas assim que alguém destrói todo o mal das preocupações e subjuga os quatro demônios, colocando-os sob seu controle de forma que possa escapar da prisão dos cinco agregados da existência e do samsara.

Quinto:
Ignorância gera o sofrimento do nascimento e morte. Seguidores do caminho do Bodhisattva devem se lembrar de manter o conhecimento seguro através de aprender ou ouvir, para que desenvolvam sua sabedoria e preparem sua eloquência para falar das escrituras budistas para quem desejar ouvir, dando a eles a grande felicidade.

Sexto:
Os mais pobres, muitas vezes alimentam o ódio e isso cria um ambiente ruim para todos ao redor. Na prática da caridade[3], os seguidores do caminho do Bodhisattva devem tratar amigo ou inimigo da mesma forma, com o mesmo grau de consideração[4], sem malícia nem sentimentos de repulsa por pessoas más.

Sétimo:
As cinco paixões se tornam falhas e aflição, assim os leigos não devem se macular com prazeres fugazes, ao invés disso, eles devem sempre pensar nos três tipos de vestes e tigelas de cerâmica assim como nos outros instrumentos usados por monges e sacerdotes[5]. No caso do desejo manifesto por leigos de tornarem-se monges, eles devem ser extremamente cuidadosos em observar as escrituras budistas e manter-se afastados da maldade. Assim, sua vida perfeita deverá ser conhecida por um longo tempo e nas mais distantes terras. Além disso, eles devem demonstrar uma profunda compaixão por cada criatura que sofre.

Oitavo:
A roda do nascimento e morte é como a chama que queima a casa. Há inúmeros sofrimentos. Primeiro devemos nos dedicar em serviço da humanidade, então esforçar-nos em sua ajuda e finalmente guia-los ao Nirvana, o estado ultimo da suprema bem aventurança.

Esses oito preceitos são o caminho que guia à iluminação dos Budas, Bodhisattvas e seguidores da escola Mahayana. Quando alguém busca as escrituras budistas com energia e perseverança, tal pessoa crescerá, pelo seu próprio bem, em compaixão e sabedoria ao mesmo tempo. Assim, se pode atingir a outra margem tomando a balsa do Buda. Através da compaixão, tal pessoa pode, assim como desejar, voltar atrás para a roda de nascimento e morte com uma meta e objetivo, a de liberar todos os seres.

Esses oito preceitos nos dão uma ideia geral do apego que guia ao sofrimento do ciclo de nascimento e morte e do abandono das cinco paixões para que se possa cultivar a mente e atingir o caminho.

Os discípulos do Buda devem incessantemente ler tais preceitos mencionados acima, abandonar as incontáveis falhas e adquirir a sabedoria, assim em breve atingindo a iluminação. Consequentemente, eles devem abandonar o sofrimento do renascimento e permanecer no estado de felicidade.
_______________________________________________
[1] Alma, ego, ente permanente, etc.
[2] Ou seja, a aquisição de bens não é uma preocupação.
[3] O ato de ajudar os outros é uma das formas de se destruir a ganância. Os três tipos de caridade para o budismo são:
 1. Doação de esmolas, que se dividem em dois tipos:
a) a oferta de um membro ou da própria vida, ou seja, do trabalho, esforço e dedicação para ajudar alguém.
b) ofertas de bens, ou seja, comida, abrigo, dinheiro, etc.
 2. Oferta de conhecimento, também dividida em dois tipos:
a) Conhecimento mundano, ou seja, aquele usado para ensinar a ler, escrever, uma profissão, etc.
b) Conhecimento inconcebível, como ensinar a doutrina budista de forma a guiar os seres sencientes a produzir atos meritórios e evitar atos maléficos.
 3. A oferta de ajuda e assistência com energia e sem medo, como auxiliar aqueles que são perseguidos por inimigos, torturados pela guerra, que foram roubados, perseguidos por animais selvagens, mergulhados em água ou fogo.
Dictionary of Chinese Buddhist Terms (Hodous, William E. Soothill, Lewis.), resume os três tipos de doações em bens, doutrina e coragem (ou ausência de medo).
[4] “Assim como a rocha sólida não é sacudida pelo vento, assim não são os sábios movidos pela censura ou pelo elogio.” (Dhammapada c.VI v.81)
[5] Antigamente os monges se alimentavam apenas de doações. Chegavam às portas das casas e recebiam o alimento em suas tigelas de cerâmica. Esse costume ainda é mantido em alguns países do sudeste asiático.
Os três tipos de vestes eram:
1. uma roupa para as tarefas diárias;
2. uma roupa para as aulas e encontros de monges; e
3. uma capa para ocasiões especiais.
O ponto é a reflexão sobre o que é realmente necessário. Vestes adequadas e alimento na quantidade justa, nem mais, nem menos. A postura de acordo com a ocasião, o conforto na medida e o alimento que mantém o corpo saudável. Lembre-se que o Caminho do Meio é assim chamado por não estar nem na auto-indulgência nem na auto-mortificação. Nem no niilismo, nem no eternalismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário