Arhat: aquele que é nobre (Arya), aquele que tem valor, livre das degenerações e destruiu os 10 grilhões, ou seja, atingiu a perfeição espiritual; às vezes traduzido como verdadeiramente o Meritório. Os 10 grilhões, ou Obstáculos da Iluminação, são os seguintes:
1) Crença na personalidade ou a ilusão do eu;
É aquela pessoa que pensa ser um ente à parte do todo. Não percebe a insubstancialidade - que os seres são compostos por agregados - e crê, ingenuamente, na existência da alma.
2) Dúvida cética, defensiva, discursiva ou especulativa;
Dúvida especulativa se caracteriza por um tipo de gente que adora discursar, intelectualizar, mas sem a práxis.
O Budismo é um sistema de "investigação" (sképsis), mas não é um sistema especulativo. Não é conjectura e sim um convite a se por os ensinamentos em prática, à prova.
É diferente daqueles que ficam pensando no sexo dos anjos. Isso é que é dúvida especulativa: uma dúvida que não leva a lugar nenhum, só a palavrório inútil.
3) Crença na eficácia de regras e rituais;
Acreditar simplesmente que o cumprir a cartilha de rituais, cerimônias, mantras ou tradições é suficiente para se atingir a Iluminação. Ser budista não é viver de aparências; mais do que manter o tom de voz suave e estar presente continuamente nos templos, é preciso seguir verdadeiramente o Darma e seus preceitos morais e éticos.
4) Desejo sensorial pela procura de satisfação através da imaginação da mente (luxúria);
Crer que o sentido da vida é a satisfação pura e simples do desejo sexual e dos 5 sentidos. O budismo não censura nenhum tipo de prazer, porém, procura trazer sentido e significado ao relacionamento amoroso e ao uso dos sentidos.
5) Má vontade, repugnância e ódio;
O tópico é auto explicativo. Obviamente, uma pessoa diligente e não ressentida tem maiores probabilidades de construir algo puro e sólido para si.
6) Anseio pela paz espiritual, devido ao apego aos objetos psíquico-sutis da meditação intensa (mundo das formas);
São aqueles que piamente buscam praticar ascese para obter estados fruitivos. Tipo: "Ah, eu quero paz, então vou ficar o dia todo meditando" ou "Ah, quero descansar a cabeça, vou pra um retiro", ou até aqueles que acham que tornando-se monges estarão "em paz".
Não confundir com o que o Buda fez no princípio de sua caminhada, pois ele não queria um estado fruitivo, porém a compreensão da realidade por trás da ilusão.
7) Anseio por uma existência imaterial (mundo sem forma);
É acreditar na existência de "vida pós morte", ou seja, que há paraíso, reencarnação, terra pura, etc. Além disso é o querer a "fruição incorpórea", vivendo como um deus, se deleitando em ficções intelectuais. É o apego ao mundo da não forma, um elevar da imaginação.
8) Orgulho Espiritual;
O caminho budista prega a humildade e não o orgulho. Humildade é saber realmente quem você é e em que estágio da caminhada se encontra. O orgulho facilmente distorce a visão que temos sobre nós mesmos.
9) Inquietude e preocupação da mente;
Manter a mente tranquila e equilibrada é um dos fundamentos para se atingir o Nirvana.
10) Ignorância devido aos resíduos de apego e auto ilusão.
O desconhecimento da realidade (Darma) ilude-nos com conceitos de satisfação e felicidade oferecidos pelo senso comum. Uma vez apegados a tais valores, nos prendemos à roda do samsara.
O verso 243 do Dhammapada diz: "a ignorância é a maior de todas as máculas, destruída, sereis puros, ó discípulos".
Referências:
Dhammapada
AS.I 349,357; III.474;IV.563; CMA.VII. 268-269; IX.362-363
DN. Sangiti. MN Mahamalukya
SN. Orambhagiya, Udhambhagiya
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