Creio que todos estão a par do ocorrido no meu desligamento da Honmon Butsuryu-Shu, se não, clique aqui.
Eu e o arcebispo da instituição trocamos alguns emails com o intuito de esclarecer o caso. Reproduzo a conversa na íntegra a seguir:
Primeiro contato:
Arigatougozaimassu.
Sr. Sandro.
Primeiramente devo me apresentar.
Sou o monge Correia do Budismo Primordial HBS. Também sou ex-responsável religioso do Templo Nyorenji e agora, pela Catedral em São Paulo, responsável geral por todos os templos e principalmente pelos procedimentos religiosos em todo o Brasil.
Recebi o seu e-mail com o Sr. Toshihiko Ota, pois o mesmo me relatou quem passou por algum descontentamento e, gostaria de saber ao certo para que eu possa corrigir e não permitir que o mesmo caso não venha a ocorrer.O responsável do Templo é o bispo Haikawa o qual me ajuda em muito e se necessário conversarei posteriormente. Também posso aprender com isso. Por momento, é apenas entre nós dois e gostaria que o Sr. me relatasse com sinceridade o ocorrido.
E antes mesmo disso me desculpo, por certas coisas acontecerem independente de serem indesejadas.
Um templo é um local onde coisas “mais certas” deveriam acontecer. Mas no entanto, são pessoas ainda não iluminadas que freqüentam. Portanto, às vezes a imperfeição transparece mais. Mas nada que pela prática correta da fé não possa ser superado. Assim vivemos a vida.
O problema não é errar, muitas vezes falta é a humildade de corrigir, pois corrigir é aprender e só aprende quem erra. Na verdade essa é uma fórmula positiva, desde aplicada pela essência.
Lamento tanto certas circunstâncias, principalmente a maioria que acabo desconhecendo e nada podendo fazer.
Mas pelas palavras do Sr. toshihiko me sensibilizei e me coloco à disposição para aprender mais essa vez também.
Havendo a sua bondade em dar essa oportunidade de aprendizado agradecerei profundamente.
Boa noite e um bom final de ano.
Arigatougozaimassu.
Correia.
Minha resposta:
Prezado Sr. Correia,
Obrigado por seu e-mail.
Nos sete meses que estive membro da HBS, nunca havia recebido nenhuma mensagem sua. Aliás, nunca tive a chance de conversar com o senhor, apesar de tê-lo visto no templo de São Paulo quando saí de Curitiba, exclusivamente, para visitar a matriz junto com um grupo do templo de Curitiba.
No templo de São Paulo, conversei com o monge Pedroni, mas não fui recebido por ninguém da alta hierarquia da HBS.
Depois de 6 horas de viagem (408 km), o senhor apenas nos cumprimentou de forma protocolar à medida que entrávamos no templo e logo se ausentou para receber um sacerdote japonês de alta hierarquia que estava em São Paulo.
Devido a tudo isso, para mim foi uma imensa surpresa receber o e-mail de alguém como o senhor. Digo, alguém tão cerimonioso, solene e distante.
Como o Sr. mesmo escreveu em sua mensagem, o Sr. é responsável geral por todos os templos, ou seja, deve ter sido sobejamente informado sobre tudo o que aconteceu entre mim e o Sr. Haikawa.
O Sr. quer que eu relate “com sinceridade” o que ocorreu? Ok. Vamos lá.
Eu paguei por um material que é vendido no templo de Curitiba e ganhei de presente um gohonzon e um “protetor” quando me tornei membro.
Quando fui me despedir e comunicar meu desligamento da HBS, fui informado que precisava “devolver” tudo.
Em nenhum momento me foi informado que os objetos que me foram dados eram “empréstimo”. Em nenhum momento eu imaginei que objetos vendidos poderiam ser retomados pelos vendedores.
Até onde sei, uma vez que um objeto tenha sido dado, se torna propriedade de quem aceitou a doação. E, até onde sei, um objeto que é vendido, se torna propriedade de quem pagou por ele, a não ser que seja um objeto que foi produto de receptação ou de outro crime qualquer.
O que me causou revolta não foi a ausência dos objetos ou o dinheiro, mas sim a atitude do Sr. Haikawa e de alguns membros da HBS, inclusive da Sra. Juliana, sua irmã, que tentou, em minha página do Facebook, justificar a tal atitude como sendo um padrão respeitável da HBS em nome da “fé”, o que me deu a impressão do fato ser sabido e recorrente entre os procedimentos para as pessoas que se desligam.
Tudo isso me dá a impressão que, se eu não tivesse publicado a questão em meu Facebook, não teria recebido nenhum posicionamento por parte da direção da HBS, para a qual isso seria um procedimento padrão e eu apenas mais um a devolver as coisas que comprou e/ou ganhou.
Dentro dos valores budistas, os quais aprendi sozinho (tendo em vista que na HBS muito se fala em rituais e pouca importância se dá aos preceitos dos sutras), é ensinado que não se deve subtrair nada que não tenha sido dado. O sutra usa o termo “nem uma agulha quebrada”, ou seja, não se deve subtrair nada de ninguém, nem um objeto tão ínfimo como uma agulha quebrada. Sendo assim, pergunto: - O fato ocorrido no meu desligamento foi um procedimento genuinamente budista?
A Sra. Juliana disse que eu deveria aprender a não misturar “outros budismos” com a HBS. Cabe a pergunta se realmente a HBS tem conexão real com o Budismo ou se é budista apenas no nome, se tratando, na verdade, de outra religião a qual não deve ser comparada com as diversas formas de Budismo justamente por conta da pouca identidade com elementos budistas em seu interior.
O Sr. gentilmente fala em “aprender” com minha experiência.
A minha experiência me ensinou que nem todo mundo que se veste de monge budista age como monge budista. Me ensinou que, mais importante que objetos, adorações ou recitações, é a atitude das pessoas em relação a praticar a ética ensinada pelo Buda.
Algumas pessoas passam anos na frente de um altar rezando e adorando um símbolo budista mas, na vida diária, tratam as outras com desconsideração. É esse o efeito desejado pela prática budista?
Fui até o templo de Curitiba para comunicar meu desligamento por ter consideração para com as pessoas. Eu podia simplesmente ter sumido, me ausentado, mas, em nome da consideração e do apreço para com as pessoas com as quais convivi e, seguindo o ensinamento de Buda, demonstrei “metta”.
A recepção seca, quase hostil, as exigências de “devolução” em relação aos objetos que comprei e ganhei, me mostraram uma face bem diferente da face alegre e bondosa que me apresentaram quando ingressei na instituição.
Com certeza, tudo na vida é um aprendizado.
Eu aprendi muito e espero que o Sr. e o Sr. Haikawa também aprendam.
Atenciosamente,
Sandro Vasconcelos.
Resposta Correia:
Boa tarde. E obrigado pela resposta.
Também agradeço por ter vindo a São Paulo. Só agora fico sabendo, e ainda assim, sem poder associar a alguma fisionomia. Desculpe-me não tê-lo reconhecido. Aliás, infelizmente é assim com a maioria das pessoas, é o pesar de se assumir um “papel” de alto escalão. Ao mesmo tempo se perde o alto padrão de aproximação com as pessoas. Mas, fora grandes eventos, deixo esse papel de lado e me enveredo por todo o lado da cidade girando a roda do darma.
O fato de eu ter lhe escrito, não se deve ao facebook, pois eu não me relaciono por redes sociais, apenas e-mails diretos. Deve-se ao respeito em atender um pedido de um nobre fiel, que foi o Sr. Ota ao ter me informado e também, na medida do possível tentar reparar algum erro que possa ser acontecido, principalmente para as próximas ocasiões.
Aprendemos antes dos erros e com eles reaprendemos.
Sobre o Bispo Haikawa, não comentarei aqui. Pois não tenho a versão dele. No momento, a que me basta é a do Sr., pois, ao fiel devemos bem atender e repassar corretamente os ensinamentos. Ao meu ver é quem merece maior atenção.
Obrigado pela sinceridade no depoimento.
Agora posso precisar algo ao menos de acordo com a forma padrão que conheço.
Quando há um desligamento, o correto é que o Gohonzon recebido (como empréstimo e não um presente, pois ao se receber assume um comprometimento) sim, esse o correto é ser devolvido (Já que não mais pratica tal religião). Agora, espero que tenha sido informado que o Gohonzon é um empréstimo (uma concessão temporária pelo tempo que praticar a fé vinculado ao templo). Justamente por isso não pode ser vendido. Porque algo sagrado não pode se vender. Mediante a promessa de praticar a fé do fiel é concedido o Gohonzon. Nesse aspecto a forma de desligamento é correta e sensata. Se não foi informado em momento algum, lamento. E ainda o pior momento para se informar isso é o momento do desligamento.
Agora, enquanto aos objetos comprados são todos seus para utilizar como desejar.
Simplesmente lamento.
Mas em relação à HBS, e a sua pergunta sobre a nossa conexão com o budismo. Posso lhe dizer que não é conexão, mas sim que estamos ligados diretamente à origem budista para ser praticada nos tempos de hoje.
E que cada ritual religioso que não desassociar do Sutra, poderá extrair um ensinamento, levar e poder praticar, independente de quem prega, senta à frente, atrás ou lado é imperfeito ou não. Acredite, vivo dilemas parecidos com o seu. Mas não aprendo sozinho, muito menos lendo. Prova disso é estar contracenando com o Sr. agora. Mas, quando desejo aprender procuro um especialista no assunto e não me baseio nas minhas experiências mundanas. Minhas experiências são insuficientes e meus conhecimentos extremamente rasos.
Obrigado pela consideração que demonstrou, isso é um ato genuinamente budista. Mas desistir em tão pouco tempo, definitivamente não é o que nos aproxima da perfeição em caminho algum.
Vou me esforçar para não ser um travestido e também orientar os demais para não parecerem assim. Devemos procurar ao máximo impedir que as nossas imperfeições se tornem barreiras para a prática de fé, principalmente de outrem. É nesse sentido que a busca da perfeição ou equilíbrio se tornam importantes.
Já que recebeu o inseparável elo, (o Namu~Kyou, como causa, essência e semente da iluminação) o que recomendo é que continue na prática. Pois ainda há muito que aprendermos. O obstáculo o que passou é ínfimo diante do tamanho tesouro que recebeu. Posso compartilhar da dor, mas não recomendar a interrupção de uma prática maravilhosa. Foi o que eu aprendi, não foi sozinho e é o que consta no Sutra.
Por isso sou grato pela sua sinceridade e por estar conversando contigo agora.
Que a luz do Darma continue o iluminando em todas as suas caminhadas.
Desejo também, uma boa finalização de 2012 e um próspero ano novo.
Correia
Última resposta:
Prezado Arcebispo Correa.
Agradeço pelo retorno e pela preocupação. Espero realmente que este erro não se repita com outros membros e que a política de empréstimo seja melhor informada aos novos fieis.
Não se preocupe que vou prosseguir no caminho budista, pois tive percepção espiritual do Dharma, logo, meu conhecimento não é mero intelectualismo. Em 2013 tentarei ser aceito numa linha Tendai vegetariana, por sentir maior afinidade com os ensinamentos lá ministrados.
Desejo muita sorte na administração da HBS.
Atenciosamente,
Sandro Vasconcelos.
O resumo da história é que fui ingênuo ao entregar os artefatos e que a HBS se desculpou, mas não se prontificou em devolver nada. Valeu ter colocado o assunto em pauta para que outros não passem pela mesma situação.
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