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domingo, 6 de abril de 2014

Data Comemorativa: Nascimento do Buda

Esquecida até mesmo entre os budistas, essa data é comemorada entre abril e maio, dependendo da tradição seguida. Em maio acontece devido a adequação dos países do sudeste asiático ao calendário gregoriano, contudo algumas tradições - principalmente algumas japonesas - ainda usam comemorar a data no início de abril devido ao antigo calendário lunar chinês, associando-a automaticamente ao Hanamatsuri, a festa das flores, a chegada da primavera.

Simbolicamente riquíssimo, o relato do nascimento do Buda é muito bonito e inspirador. Selecionei um trecho que eu traduzi do Sutra Lalitavistara sobre o momento de seu nascimento e também um trecho do Sutra dos Méritos de Banhar o Buda, base do rito que relembra o mito, que você pode baixar completo em pdf clicando AQUI. Que através da leitura e da celebração do seu nascimento possamos despertar também a aspiração pela iluminação. Por uma vida virtuosa de conduta firme e resoluta.
Marcelo Prati (Renji)
. . .
"Preencheremos toda a cidade de Kapilavastu
Com flores de mandarava, belos jasmins e hibisco
A fim de fazer oferendas a ele
Que surgiu no mundo devido às suas ações virtuosas.

Enquanto estiver no útero de sua mãe, imaculada das três manchas
E até que ele nasça com a finalidade de por um fim à velhice e à morte
O serviremos assim devotadamente
Pois nosso desejo é de realizar tais ofertas àquele de grande inteligência.

Será de grande bênção para deuses e homens
Testemunhar o recém-nascido dando sete passos,
Vê-lo recebido por Śakra e Brahmā
E ver o Puro Ser banhado com água perfumada

Enquanto ele se comporta em equilíbrio com o mundo
E vence as aflições do desejo, mesmo dentro dos aposentos femininos
Assim como ele abandona seu inteiro reino
Através dos tempos, nós o serviremos devotadamente

E quando ele adquirir o conhecimento e viajar rumo ao assento do despertar
E assim que ele vencer os demônios e atingir o despertar
E fizer girar a roda do Dharma por um bilhão de deuses Brahmā
Através de todo esse tempo, ainda faremos oferendas ao Abençoado

Enquanto ele doma trilhões de seres rumo ao estado da não-morte
Realizando atividades iluminadas através de toda a conjuntura do universo
E até que adentre ao calmo e pacífico nirvana
Por todo esse tempo, nenhum de nós abandonará o sábio grandemente renomado."
(Sutra Lalitavistava. c.V)

"Tão logo quanto nasceu, o iluminado pisou no solo. Quando seus pés tocaram o chão um grande lótus imediatamente desabrochou da terra. Então os grandes reis naga Nanda e Upananda revelaram seus corpos superiores no céu, aspergiram dois fluxos de água fresca e morna para lavar o corpo do iluminado. Śakra, Brahmā, os guardiães do mundo e muitas centenas de milhares de filhos divinos então banharam o iluminado com água perfumada e dispersaram pétalas de flores sobre ele. Um dossel de joias preciosas e dois chamaras[1] também apareceram no meio do ar.
O iluminado ficou de pé num grande lótus e olhou nas quatro direções com seu olhar de leão, o olhar de um grande ser. Naquele momento, o iluminado, com desimpedido e superior conhecimento manifestado através de prévias raízes de virtude, viu a totalidade do universo. Viu todas as cidades, vilas, estados, reinos, capitais e terras, assim como todos os deuses e homens. Ele também perfeitamente observou as mentes de todos os seres sencientes e cuidadosamente os conheceu, tentando encontrar alguém que fosse semelhante a ele em termos de conduta virtuosa, disciplina, absorção meditativa e conhecimento. Contudo, na grande e plena totalidade do universo, não encontrou ninguém como ele.
Naquele momento, sentindo o destemor de um leão, livre da ansiedade e da apreensão, sem hesitação ou medo, ele lembrou-se de suas boas motivações. Ao examinar a mente dos seres, ele percebeu seus pensamentos. Sem que ninguém o segurasse, ele deu sete passos na direção leste e declarou, "Eu serei o causador de todas as práticas virtuosas."
Onde quer que desse um passo, um lótus desabrochava sob seus pés. Ele então deu sete passos na direção sul e disse, "Eu sou digno de homenagens de deuses e homens." Em seguida deu sete passos rumo a oeste e parando no sétimo passo ele proclamou tais palavras portando-se como um leão: "Eu sou o Ser Supremo nesta terra. Este é meu último nascimento, quando eu desarraigarei o nascimento, velhice, doença e morte!" Ele então deu sete passos na direção norte e disse, "Eu serei o maior dentre todos os seres sencientes!" Em seguida ele deu sete passos descendo e disse, "Eu subjugarei Māra e todo seu exército! Eu serei a causa das grandes nuvens de chuva do Dharma aspergirem sobre todos os seres que habitam os infernos, extinguindo as chamas do inferno e preenchendo os seres com a felicidade." Ao fim, ele deu sete passos acima, ergueu seu olhar e disse, "Todos os seres sencientes me buscarão.
(...)
No exato momento em que o iluminado nasceu, todos os seres tornaram-se cheios de bem-aventuranças. Todos os tipos de apego, ódio, ilusão, orgulho, desgosto, tristeza e depressão, medo, ganância, ciúmes e mesquinhez acabaram e todos abandonaram toda forma de conduta imprópria.
Os doentes foram curados. O faminto e o sedento foram aliviados de sua fome e sede. O bêbado e intoxicado ficou livre de sua intoxicação. O louco teve sua sanidade restaurada. O cego pode ver. O surdo pode ouvir. O aleijado teve suas capacidades restauradas. O pobre tornou-se opulento. O prisioneiro tornou-se livre. Todas as dores e sofrimentos dos que habitavam os mundos infernais, começando pelo Inferno do Supremo Tormento, cessaram naquele exato momento. O sofrimento daqueles nascidos no mundo animal, tal como o medo de ser devorado por outro, foi também pacificado. Da mesma forma, os sofrimentos experienciados pelos seres no mundo do senhor da morte, tais como a fome e a sede, também foram eliminados.
(...)
Naquele momento, o mundo inteiro foi preenchido com uma luz brilhante e os sons de cantos e danças de alegria foram ouvidos. Uma chuva de flores, incenso, guirlandas de flores, joias, enfeites e vestes caíram de inumeraveis nuvens. Todos os seres ficaram cheios da mais perfeita alegria." (Sutra Lalitavistara. c.VII)

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"Depois de meu Nirvana, há dois tipos de relíquias: uma é o Corpo do Dharma, o Dharmakaya, e a outra é o Corpo de Manifestação, o Nirmanakaya. Se um bom homem de família ou uma boa mulher ofertar estátuas ou imagens de Buda, ou pelo menos um esforço mínimo como um grão de cevada, ou construir uma stupa como o fruto da jojoba, com seu mastro do tamanho de uma agulha, com sua cúpula como uma escama de farelo de cereais, deverá colocar ali a relíquia, tão pequena como uma semente de mostarda, com tanto cuidado como se estivesse oferecendo uma jóia rara de acordo com sua própria força e habilidade. Se for realmente sincero e respeitoso, a imagem ou a stupa serão como se meu corpo estivesse presente, igual, sem diferença. Assim esta pessoa obterá os quinze tipos de méritos e virtudes. Primeiro: uma mente pura; segundo: uma mente de acordo com o Dharma; terceiro: uma mente de arrependimento; quarto: ver o Tathagata; quinto: poder dar origem a uma mente pura e firme; sexto: sustentar o verdadeiro Dharma; sétimo: praticar o que eu disse; oitavo: estar constantemente próximo de todos os Budas; nono: nascer de acordo com seu desejo em todos os mundos de Buda; décimo: se renascer entre os humanos, pertencer a grandes famílias de renome, com pensamentos elevados, respeitado(a) entre os homens; décimo primeiro: renascer entre os homens tendo sempre presente a aparência do Buda; décimo segundo: não ser arruinado por nenhum demônio; décimo terceiro: na era do Fim do Dharma, ser capaz de proteger e manter o verdadeiro Dharma; décimo quarto: ser protegido pelos Budas das Dez Direções; e décimo quinto: obter rapidamente os cinco atributos do Corpo do Dharma.

Se com flores, incenso, gemas e parassóis lhe fazem oferendas, mais ainda, se banha-se o corpo do Tathagata com água maravilhosamente perfumada, cobrindo tudo com um dossel repleto de jóias e, além disso, celebra-se o extraordinário mérito do Tathagata com comida e bebida, percussão e instrumentos de corda e todo este mérito se dirige a obter todo o tipo de conhecimento, o mérito assim produzido será imensurável e sem limite, até que se obtenha a insuperável Iluminação Bodhi. Desta forma, haverá bênçãos e méritos.
Neste momento, o Honrado do Mundo pronunciou estas palavras:

'Depois do Nirvana do Tathagata,
Com uma mente pura,
Serão capazes de honrar minhas relíquias.
Alguns construirão stupas ou imagens do Tathagata.
No lugar onde estiver colocada a imagem ou stupa
Quem se aproximar poderá oferecer ali
Diversos incensos e flores,
Ou usar água maravilhosamente perfumada sobre o corpo da imagem,
Oferecer-lhe várias comidas e bebidas saborosas ou outras oferendas.
Elogiar a virtude do Tathagata permanentemente.
Através da sabedoria do uso dos meios e do poder natural do Buda,
Tal pessoa rapidamente alcançará a outra margem do Nirvana.'

Neste momento, o Bodhisattva Pura Sabedoria, tendo escutado estes versos, dirigiu-se ao Buda dizendo: “Honrado do Mundo. Estando o Buda neste mundo ou tendo passado pelo Nirvana, os seres deste mundo perguntarão no futuro “Por qual razão devem banhar a imagem”? Desejo somente que o Tathagata responda.
O Buda disse: 'Com a pura sabedoria, como quando o Buda estava no mundo, os seres farão surgir uma mente pura. Da mesma forma, depois do Nirvana do Buda, sem apego ao vazio ou ao ser, desejarão a boa conduta e não surgirá neles cansaço nem aversão. Por qual razão? Porque aspirarão obter o Dharmakaya, o Sambhogakaya e o Nirmanakaya. Já expus para seu benefício as Quatro Nobres Verdades, os Doze Elos da Causalidade e as seis Paramitas.'" (Sutra dos Méritos de se Banhar o Buda)

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[1] Chamara: De forma semelhante a um espanador, era um emblema da realeza na Índia antiga. Era usado para abanar o monarca, no calor do verão, afastando dele insetos voadores como vespas e mosquitos. Foi adotado no Budismo como símbolo da soberania do Buda e de sua atividade compassiva da mesma forma que os dosséis.

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