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domingo, 17 de novembro de 2013

O Budismo acredita em Reencarnação?

por Marcelo Prati (Renji)

Evitando debates desnecessários, reuni várias passagens do cânone budista e conforme achar necessário, reviso o texto adicionando mais alguma coisa interessante que porventura venha a surgir.

A religiosidade no século XX tornou-se gradualmente uma aberração. Tempos atrás eu me envolvi em um debate num fórum de internet e isso acabou me preocupando um pouco, pois embora eu tenha oferecido respaldo sólido, os participantes faziam de conta que (ou talvez de fato) cobriam os olhos. Têm-se tapado os ouvidos para tudo que perturba uma falsa ideia de estabilidade, de zona de conforto e criado uma espécie de névoa de falsa tolerância, uma máscara de "gente boa", um medo de ouvir ideias contrárias, quando na verdade aquela pessoa que te aponta erros é justamente aquela que se preocupa com você.

No fim das contas eu abandonei o tal debate, pois a gente corre um risco enorme de parar de discutir a ideia e entrar numa corrida desenfreada em busca de aprovação alheia. Consta no cânone:

"(...) ó Manjusri, o Bodhisattva Mahasattva (...) não serve, não honra, não reverencia (...) os determininstas, os jainistas (...), os que praticam lokayatamantra, nem os materialistas, (...) os chandalas, (...) os açougueiros, (...) nem com eles estabelece relações - unicamente lhes prega de tempos em tempos o Dharma quando se aproximam dele e lhes prega sem se apegar a eles." (Saddharmapuṇḍarīka sūtra [Sutra do Lótus], c.XIII, K276)

Dispus-me a explicar, não quis saber? Tchau. A gente tem que aprender a ser mais assim.

Aí comentei com Sandro que tive a ideia de escrever um texto. É bacana porque a informação fica aí pra quem tiver interesse. E não direi aqui "a minha opinião" ou o que disse o mestre zezinho ou o lama joãozinho. Vou citar apenas passagens do cânone. O Budismo não aceita a ideia de alma, reencarnação, transmigração ou qualquer coisa que o valha. Isso é uma mentira. É uma confusão idealizada e introduzida no Budismo no fim do século XIX. Tal mentira confortável foi aceita por religiões criadas no século XX que começaram a difundir como se fosse uma doutrina verdadeira, tradicional e antiga. Mas não é.

O cânone, tanto Hinayana quanto Mahayana, está preenchido com passagens que afirmam isso. Não sou eu quem está dizendo. São os próprios textos e ora bolas, um conceito tão fundamental, mas tão básico, que tem sido ensinado simplesmente na forma contrária me faz questionar que tipo de gente está se dispondo a guiar as pessoas. Não existe reencarnação no Budismo, pois não existe nada substancial nos agregados que permaneça depois de sua dissolução. Seguem passagens e curtos comentários meus em itálico que se prestarão apenas a amarrar o discurso das passagens.

“Eu não ensino que exista algo chamado velhice e morte e que há alguém a quem eles pertençam. Se alguém sustenta a visão de que jiva (princípio da vida, alma) é idêntico ao corpo, em tal caso não há vida santa. Se alguém sustenta a visão de que jiva é uma coisa e o corpo é outra, nesse caso então a vida santa é impossível. Evitando ambos extremos (niilismo e eternalismo) o Perfeito ensinou a doutrina que jaz no meio, a saber: Pelo renascimento está condicionada a velhice e a morte, pelo processo de vir a ser está o renascimento, através do desejo está o processo de vir a ser (...).” (Saṁyuta Nikāya XII,35)

Simples, não? O niilismo e o eternalismo são contrários à doutrina budista. E é através do desejo que se inicia o processo do renascimento. Por enquanto não são necessárias maiores explicações.

“Seria mais inteligente considerar o corpo como alma do que a mente. Por quê? Porque este corpo pode durar dez, vinte, trinta, quarenta ou cinquenta anos, até mesmo por cem anos ou mais. Mas a mente e a consciência renascem continuamente durante dia e noite e então, como qualquer outra coisa, ela em seguida desvanece. Aqui o instruído e nobre discípulo considera tal fato através da Originação Dependente: quando isto surge, aquilo surge; através da extinção disto, aquilo se extingue, a saber: através da ignorância, as formações de carma; através das formações de carma, a consciência; através da consciência, a forma e mente (...).” (Saṁyuta Nikāya XII, 61)

Ou seja, cada mudança de estado mental, tristeza, alegria, angústia, ódio, são renascimentos. Cada estado é um “mundo” onde se renasce depois que se “morre” no mundo anterior, assim, o corpo teria mais tempo de estabilidade do que a mente ou a consciência que renasce continuamente e é apenas parte dos agregados que formam o indivíduo enquanto fenômeno.

“Todos tais ascetas e brâmanes que continuamente e de muitas formas creem numa alma ou na alma como essência do indivíduo, todos eles fazem isso baseados nos cinco agregados da existência ou em um deles (...). Assim o mundano ignorante (...) considera um dos cinco agregados como alma, ou a alma como essência de um agregado ou os agregados como possuidores de essência ou a alma inclusa em um agregado.” (Saṁyuta Nikāya XIII, 47)

“O instruído e nobre discípulo não considera a forma, sensações, percepção, constituintes mentais ou consciência como alma; nem a alma como um desses agregados, nem tais agregados como contendo a alma, nem a alma como contendo os agregados. Por isso se diz que um instruído e nobre discípulo não está preso a nenhum agregado da existência, interno ou externo.” (Saṁyuta Nikāya XXII, 117)

A questão das passagens é simplesmente reafirmar que quem diz que há uma alma ou qualquer coisa manifesta que possua essência permanente não é budista. É um ignorante do assunto. Você pode acreditar que exista, mas isso te põe num caminho contrário ao pensamento budista, no engodo do eternalismo. As passagens também destroem a afirmação de que a alma seria a essência do indivíduo ou que estaria contida nele ou ainda o contendo.

“Pois o mundo é ausente de essência (atman, alma, substância) e de qualquer coisa que pertença a isso, por isso o mundo é chamado de vazio. Mas quais são as coisas vazias de essência? Vazios de essência são o olho e os objetos visíveis, o ouvido e os sons, o nariz e os odores, a língua e os gostos, o corpo e as impressões corporais, a mente e os objetos mentais.” (Saṁyuta Nikāya XXXV, 85)

Todas as constituições da natureza são insubstanciais;
Tão logo alguém vê isto com sabedoria,
Então do sofrimento ele se enfastia; este é o Caminho da Purificação.” (Dhammapada c.XX v.279)

Novamente a alma não está em nenhum dos agregados, nem nos sentidos, nem os objetos dos sentidos. Ou seja, todos os fenômenos são ausentes de essência.

“A consciência é insubstancial. Assim também as causas e condições que renascem na consciência são igualmente insubstanciais. Então como é possível que a consciência, que surgiu de algo que é insubstancial, possuir substância?” (Saṁyuta Nikāya XXV, 141)

"É assim que o Abençoado ensina a seus discípulos, Aggivessana e é assim que a instrução do Abençoado é apresentada a seus discípulos:
'Monges, a forma é impermanente, os sentidos são impermanentes, a percepção é impermanente, as formações mentais são impermanentes, a consciência é impermanente.'" (Majjhima Nikāya I, 228)

Outra besteira altamente difundida é que não existiria alma, mas a consciência permaneceria. Dá pra entender que isso é uma bobagem com esses trechos, não?

"Diligência é a trilha da não-morte,
negligência é a trilha da morte;
Os diligentes não morrem, os negligentes são como que mortos.
Os instruídos em diligência, tendo compreendido isto claramente,
Alegram-se na diligência, deleitando-se no reino dos Nobres.
Os que são meditativos, perseverantes e sempre esforçados,
Estes sábios atingem a suprema segurança, o Nirvana." (Dhammapada c.II v.21-23)

"O bikshu (monge) que com o coração tranquilo
tenha na casa vazia entrado,
experimenta encanto sobre-humano,
ao ter o Dharma perfeitamente discernido.
Sempre que ele compreende o surgimento e
desaparecimento dos agregados (da existência),
Alegria e felicidade ele obtém, que é não-morte
para aqueles que discernem." (Dhammapada c.XXV c.373-374)

Ué, agora morre, mas não morre, mas não tem alma, então como que... puxa, então "parece" que tem que se entender algo claramente pra saber o que é Nirvana. Que o Dharma (ensino, doutrina) é algo que deve ser perfeitamente discernido. Não é "mais ou menos discernido," nem "discernido de acordo com minha opinião.” Se você não estudou até a exaustão do assunto, compreendendo perfeitamente, não é capaz de obter nada além de sucessos acidentais, embora haja o conceito de meios hábeis, mas isso é outra história... E a passagem seguinte é para quem acredita que os budistas são moscas mortas que não devem reagir energicamente quando necessário:

"Então o Abençoado lhe perguntou:
'Sati, é verdade que tal ideia nociva surgiu na sua mente, a de que Eu ensino que a consciência é fixa e permanece transmigrando de um nascimento a outro?'
'Exatamente isso, venerável. Da forma como eu entendo, o Dharma ensinado pelo Abençoado é de que a consciência é fixa e permanece transmigrande de um nascimento a outro.'
(...)
'Seu inútil, pra quem você me viu ensinar o Dharma dessa forma? Seu inútil, eu já não disse muitas vezes que a consciência possui origem dependente e que sem uma condição não pode haver origem da consciência? Mas você, imprestável, com seu entendimento incorreto, deturpou o ensino, causando prejuízo a si mesmo, acumulando muito demérito; pois isso lhe causará dano e sofrimento por muito tempo.'" (Majjhima Nikāya 38)

Alguém pode dizer: - Ok, mas você só citou passagens do cânone pali. Com o desenvolvimento do pensamento mahayana o sincretismo com as outras formas de pensamento da época...

Certo. Na filosofia mahayana a ideia do renascimento nos mundos toma forma e se desenvolve até assumir características bem sólidas, assim como outros conceitos extremamente mais complexos como os que são expostos, por exemplo, nos sutras da prajñaparamita. O Budismo assumiu e absorveu sim muitos símbolos locais por onde passou. Símbolos que foram usados aos seus próprios propósitos. Deuses e divindades tornaram-se ilustrações de aspectos da mente, rituais tornaram-se detalhados e profundamente carregados de significado. Muitos filósofos, tradutores, monges, trabalharam duro na exegese escrevendo comentários e tratados sobre os textos e conceitos religiosos. A questão do renascimento, que é ridiculamente interpretada como reencarnação, em suma, significa que os mundos onde se renasce incessantemente “por muitas vidas” ou as terras búdicas onde se busca renascer, são estados mentais que devem ser cultivados ou abandonados.

"Com a destruição de todas as formas de doutrina que afirmam haver um Eu, o Abençoado declara que a personalidade (sct. pudgala) é desprovida de realidade intrínseca." (Dignaga. Breve Síntese da Perfeição da Sabedoria. Séc. V)

Sobre a personalidade ser uma construção que desaparece após a dissolução dos agregados.

“Os tolos e ignorantes, por outro lado, se enganam com o conceito de nascimento. Ao ouvirem o termo "nascimento" eles entendem como um nascimento físico; (...) Por não ter entendido este princípio, (...) eles são culpados de vilipendiar o Dharma e pertencem à classe dos externalistas iludidos.” (T'ien-t'ai Chih-i. Ching-t'u Shih-i-lun. T.47,n.1961. Séc.VI)

Simples e claro. Você sabe quem foi Chih-i? (Também é grafado como Zhiyi, conhecido com Tiantai ou T'ien-t'ai (ch.), Tendai Daishi (jp.), etc.) Talvez ele "não entendia nada de Budismo"... (rs)

“Isso (o Renascimento) é análogo a uma pessoa que dorme e sonha. Embora seu corpo esteja na cama, sua mente viaja por todos os mundos, tal como estivesse acordado. Renascer na Terra Pura é, em termos gerais, similar a este exemplo.” (T’ien-t’ai Chih-i. idem)

T’ien-t’ai outra vez explicando que o renascimento é um símbolo e ocorre dentro da mente e não fora. É o abandono de estados mentais desfavoráveis e o cultivo de estados benéficos.

“Portanto, como você poderia encontrar uma terra búdica fora da mente? (...) Da mesma forma não há terra búdica que não seja a mente. Além disso, sábios e santos disseram:
‘Esta única mente contém os quatro tipos de Terras em sua totalidade: a) a Terra da Residência Comum de seres e santos; b) a Terra dos Expedientes; c) a Terra da Recompensa e d) a Terra da Eterna Luz Tranquila...’
A diferença entre as quatro terras se baseia nos diferentes níveis de prática e níveis atingidos; contudo, eles são de fato, apenas um único mundo. (...) Terras numerosas como grãos de poeira além das dez direções não são nada além dos mundos da nossa mente; os incontáveis Budas dos Três Períodos de Tempo também são Budas nas nossas próprias mentes. Nada existe fora dessa mente. Compreendendo tal verdade, entendemos que não há terra que esteja fundada independente de nossa própria mente, não há Buda que surja sem depender de nossa própria natureza.
(...)
Podemos dizer que essa mente reúne a totalidade dos Dez Mundos, corpos e terras livremente se interpenetrando ad infinitum.
O mundo da Mente Verdadeira, interpenetrando incontáveis terras, pode ser entendido como a Rede de Joias de Indra descrita no Sutra Avatamsaka.” (T'ien ju. Ching-t’u Huo-wen. T.47, n.1972. Séc.XIV)

"Dentro de um único pensamento, uma pessoa é capaz de perceber imensuráveis e ilimitados mundos." (Mahaparinirvana sūtra T.12.719b14)

"Então o Honrado Pelo Mundo disse a Vaidehī, “É de seu conhecimento que Amitāyus não está longe? Concentre seus pensamentos nisso e então contemple tal terra búdica. (...) Todo aquele que desejar lá renascer deve praticar os três atos: primeiro, cuidar de seus pais, ouvir os mestres e sábios, compassivamente abster-se de matar e também praticar os dez bons atos; segundo, tomar os Três Refúgios, mantendo os vários preceitos e deter-se de quebrar as regras de conduta; e terceiro, despertar a aspiração pela iluminação, crer profundamente na lei da causalidade, recitar os sutras Mahayana e encorajar as pessoas a seguir seus ensinos. Tais três atos são chamados de puro karma.”" (Sutra da Contemplação de Amitāyus, T 12.341c6)

Ou seja, a Terra Pura e o Buda não estão longe, estão perto. Você deve manter o pensamento centrado nisso e realizar os atos do puro karma. Agindo assim você renascerá na Terra Pura e verá o Buda (ou seja, sua própria natureza).

"Para renascer na Terra Pura, você deve primeiro purificar sua mente; quando a mente é pura, as terras búdicas são igualmente puras." (Vimalakirti sūtra)

“T’ien-t’ai afirma em seu tratado: ‘Esta mente torna-se Buda’ significa que o Buda é inerentemente vazio e insubstancial. Quando as mentes dos seres sencientes tornam-se puras, o Buda vem a existir.
‘Verdadeiramente, esta mente é o Buda.’ Como as pessoas podem não ter entendido o que eu disse e acham que o Buda espontaneamente vem a existir, as palavras ‘é o Buda’ são usadas. A palavra ‘torna-se’ indica o início da prática, enquanto a palavra ‘é’ indica que foi completada.’” (T'ien ju. idem)

“O Renascimento ocorre em nove níveis, que não são os mesmos. Alguns praticantes, confiando no mundo da transformação, veem a transformação do corpo (manifesto) do Buda. Outros renascem na Terra da Verdadeira Recompensa e veem a verdadeira natureza do Tathagata. Ainda outros cultivam o Dharma através de muitos kalpas para atingir os frutos dos dois veículos [Arhats e Pratyekabuddhas]. Outros ainda, nem ao menos uma noite depois de renascer, atingem o mais alto nível dentre os Bodhisattvas.” (Yung Ming citado por T'ien ju. ibidem)

Então, você reencarna, e nem uma noite depois de nascer já atinge o mais alto nível dentre os bodhisattvas, que bebê mais sapeca! Deve ser tipo aqueles da sessão da tarde... (rs)

Kalpa (também traduzido como eon ou aeon) é uma expressão bem corrente nos textos budistas e na literatura sânscrita de uma forma geral. Significa, uma medida incontável de tempo, milhares de milhões de anos. Também é usada para sustentar a ideia de que sucessivas transmigrações são necessárias para “evoluir” até tornar-se um Buda. Dá pra reparar a ideia no texto, né?

Novamente alguém pode dizer: - E agora? Tá escrito lá que você precisa renascer por eternidades até que atinja estados superiores. Vai falar o quê?

Vamos ver então o que podemos encontrar nos comentários dos mestres (que os budistas de hoje dizem seguir):

“A palavra sânscrita kalpa tem dois significados. Um é unidade [inconcebível] de tempo. O outro é a ilusão. De acordo com a explicação superficial, é possível atingir o verdadeiro despertar através de três kalpas de prática. Numa explicação aprofundada, a prática que transcende o primeiro kalpa é a remoção da simbólica rude camada de ilusão (...) e isso é chamado de um kalpa. A prática que transcende o primeiro dos dois kalpas é a remoção da fina camada de ilusão (...) isso é chamado de dois kalpas. Praticantes (...), transcendendo ainda mais um kalpa podem remover a camada sutil (...) então atingindo o primeiro nível de sabedoria da Mente Búdica. Então é isso que significa tornar-se um Buda em três kalpas. (...) Não é uma questão de tempo.” (I-hsing. Dainichi-kyo Sho [Comentário sobre o Sutra Dainichi] séc.VII)

Ou seja, simbolicamente, vencendo inúmeras dificuldades que impedem o cultivo de uma mente adequada, constante e equânime, alguém a atinge após um esforço imensurável. Sacou? Não é tão difícil de entender. O mesmo que escrevi linhas acima, não sou eu quem diz, está no cânone. Será que I-hsing "não sabia nada sobre o assunto"? O mestre zequinha é quem sabe? Ah, o mestre zequinha recebeu uma mensagem de um espírito invisível de outra dimensão... é mesmo. Isso explica tudo.

“Se entendemos nascimento como nascimento físico, caminhamos na direção do eternalismo. Se entendemos não-nascimento como a não existência deste nosso nascimento real, cometemos o erro do niilismo. Nascimento e ainda não-nascimento, não-nascimento e ainda nascimento é o verdadeiro significado supremo.” (T'ien-ju. ibidem)

Já tô ficando cansado de comentar... se cai no eternalismo ou no niilismo não é o caminho do meio. Sabe o que são os Selos do Dharma (Dharmamudra)? Procure saber.

“Este ignorante (que) não ouve o Dharma, é surdo e insensível; (...) Para ele o inferno é um jardim, o domínio do sofrimento é um lar (...). Ele possui uma firme crença na alma (...).” (Saddharmapuṇḍarīka sūtra [Sutra do Lótus], c.III. K97)

Sempre tem a galerinha seguidora do Sutra do Lótus... se não há alma, o que haveria para reencarnar? Já escrevi acima que o próprio cânone afirma que a consciência não perdura, pois ela não é permanente.

“Mas que dúvida estúpida! Eu expliquei muitas vezes que não há terras fora da mente (...)! Como você ainda pode não ter entendido! (...) As dez bilhões de terras búdicas estão precisamente dentro de nossa mente; elas não estão longe, mas muito próximas! Da mesma forma, renascer na hora da morte significa meramente renascer dentro de nossa própria mente. Isso é muito, muito simples. Qual é a dificuldade?” (T’ien ju. ibidem)

T’ien ju seu intolerante! (rs) Deu pra entender, eu acredito. Também deu pra perceber que eu não escrevi esse texto para dar "a minha opinião" sobre o assunto.

"As causas precisam ser verdadeiras para que os resultados não sejam falsos, assim como o eco que reverbera forte e claro vem de um som forte e a imagem correta no espelho precisa de um objeto correto." (T'ien-ju. ibidem)

Ter uma opinião não basta. Se você não tem uma base muito sólida para sustentar o que diz, você não tem opinião, você tem preguiça. Essa ultima citação significa que não se deve esperar bons resultados de atitudes erradas. Não espere o brotar de alguma verdade semeando mentiras. Se você achou complicado demais, não há nenhum lugar no cânone em que se diga que é algo simples. Pelo contrário. O próprio Buda afirmou que sua doutrina era profunda como o oceano. E em alguns sutras ainda consta que tal ensino é o mais difícil de se crer e compreender. Mas em nenhum lugar diz que é impossível.

"Há aqueles que não se deleitam nas śarīras, mas se aprazem do apego aos pensamentos inferiores. Você, tendo surgido como um ser dotado de consciência deve buscar as verdadeiras características dos fenômenos. (...) A realidade última dos fenômenos não é impossível [de entender], [pois] um Grande Sábio pode apontá-la e esclarecer [as dúvidas]. Expor tal conhecimento e atingir tal conhecimento, ambos não se encontram fora da sua capacidade." (Sutra da Concentração na Absorção Meditativa na Postura Sentada T0614_.15.0269c27)

Então, se você tem o mínimo interesse pelo assunto, não se contente com respostas curtas e superficiais. Elas provavelmente estão erradas. E não aceite respostas vagas, fantasiadas de profundidade, mas que depois de analisadas cuidadosamente se mostram, na verdade, sem sentido nenhum. O Budismo é pra ser entendido, não aceito.

Até a próxima!

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Espiritismo é uma vigarice, cheia de fraudes e distorções históricas, idéias absurdas e conceitos contraditórios usurpados de outras religiões. Não passa de uma macumba europeia vagabunda para agradar classe média brasileira. Espiritismo é tão bom, que só deu certo no Brasil e nas Filipinas, nem na França onde nasceu ninguém leva a sério.

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  3. Tem gente que prefere acreditar naquele Budismo da novela das seis.

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