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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Budismo Esotérico (Mikkyo) - Parte 4

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Desenvolvimento Tardio e Declínio na Índia
por Marcelo Prati (Renji)

Até a entrada do século VIII o Budismo continuava a se desenvolver e prosperar no sul da Índia. Ao noroeste, contudo, onde os Rajputs cresciam em poder, isso não acontecia. Ao sudeste a dinastia Pallava – que apoiava o Budismo – foi tomada pela dinastia Chola que eram adoradores de Shiva. O Budismo mudou-se para Orissa, na Índia oriental onde contavam com o apoio do Rei Indrabhūti, autor de muitos textos, patriarca da tradição esotérica tardia e pai do grande sacerdote Padmasambhava.


Ruínas da Universidade Budista de Vikramasila, Índia
No começo do século VIII, cada vez mais áreas da Índia tombavam sob a ameaça muçulmana que avançava destruindo todo traço de religiões não-islâmicas por onde passava. As tradições budistas esotéricas, mesmo ainda apoiadas por algumas dinastias, ainda se desenvolvendo a exemplo do grande centro de estudos de Vikramasilā, fundado por Dharmapāla, o segundo rei da dinastia Pāla, que reinou no século IX, foi construído na forma de um mandala, um diagrama cósmico que representava o próprio universo. Sua total destruição pelos muçulmanos em 1203 é tida como o marco do fim do Budismo esotérico na Índia.

Num último esforço, ainda no século VIII, Padmasambhava viaja até o Tibete, e diz a lenda que ele subjugou os deuses e demônios tibetanos para mostrar a superioridade do Budismo. Assim os primeiros sacerdotes tibetanos foram ordenados e as traduções dos textos começaram, sendo aceitas pelos governantes. Contudo, a miscelânea com muitos elementos da religião xamanista nativa (tib. Bon-po) tornaram o Budismo tibetano inicial uma mera religião servente da corte.

O Budismo Ortodoxo foi suprimido até a metade do século IX, fazendo com que os sacerdotes fugissem para regiões mais orientais do Tibete. De lá, um grupo de 21 monges foi enviado para estudar na Índia e um dos dois que retornaram era Rin-chen bzan-po (958-1055), que iniciou um novo ciclo de traduções dos sutras budistas. Sem as restrições impostas pela corte, o Budismo Tibetano trouxe novos ensinos esotéricos da Índia, contando com uma sucessão de mestres que incluíam Atisa, um mestre do centro de estudos de Vikramasilā. Esse tipo de Budismo, que acabou por fim assumindo características bem particulares, é também chamado de Vajrayāna.

Stupa de Borobudur, Java.
O Budismo esotérico indiano partindo de Vikramasilā ainda atingiu o Ceilão, de onde foi levado para Sumatra e Java, local onde foi construída a grande stupa de Borobudur. É dito também que no início do século XI, Atisa passou vários anos estudando em Java antes de ir para o Tibete. Apesar disso, o Budismo em Java foi suprimido e declinou depois do século XIII com o avanço do Islamismo.

Ainda no século XI, enquanto os muçulmanos continuavam a expandir seu território, tomando todo o norte, templos hinduístas e budistas eram destruídos e ainda assim textos riquíssimos como o Kalacakra Tantra foram escritos, onde todas as vertentes hinduístas eram convidadas a se unir ao Budismo esotérico contra a ameaça islâmica. Nesse texto também se desenrolam conceitos esotéricos complexos sobre o “Buda Primordial” (sct. Adhibuddha), a fonte, a origem de todos os Budas.

No século XIII os muçulmanos alcançaram o leste do Tibete onde assassinaram milhares de budistas, destruíram templos e queimaram sutras. Os sobreviventes fugiram para outras regiões do Tibete, Nepal, sul da Índia e Java. Era o fim do Budismo indiano. Apenas uma combinação medíocre de Budismo e Hinduísmo com algo de Islamismo sobreviveu como religião popular em Bengala e Orissa.

continua...

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