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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Adolescência como um estágio permanente

Quando o homem, ou uma mulher, deixa de ser definitivamente uma criança ou mesmo um adolescente? Segundo as definições do Estatuto da Criança e do Adolescente, crianças são aquelas que têm até 12 anos de idade, e adolescentes são os jovens com a idade entre 12 e 18 anos. Entre outros entendimentos, como o das Organizações das Nações Unidas, a adolescência tem seu poente etário aos 24 anos. O meu objetivo não é sugerir uma definição absoluta em qual idade a adolescência se torna extinta, mas é refletir sobre o quão difícil é presenciarmos o seu findar.

O novo dinamismo da vida social e econômica contemporânea resulta em um cotidiano familiar com a intenção de se ter filhos com mais idade, assim como o próprio intento de constituir uma família costuma ser postecipado. Adiamentos estes, em função da preparação acadêmica e busca pela estabilidade financeira, deixando para um segundo plano o desejo de criar o próprio lar. Também podemos observar que muitas pessoas permanecem residindo nos lares de sua família. Embora não possamos generalizar, muitos indivíduos que prolongam a estadia em leito paterno, deixam de desenvolver habilidades inerentes à construção de sua própria morada, ocupando o seu tempo com superficialidades que talvez não poderiam se tivessem em pauta assuntos como lavar roupa, fazer compras, limpar a casa e preparar seus alimentos. Mas o raciocínio que gostaria de me ater é sobre aquele que o indivíduo se torna um chefe de família, mas continua a se comportar como um adolescente.

Quando as crianças conquistam os seus primeiros estágios de independência, costumam utilizar as brincadeiras no apoio de seu desenvolvimento psicológico, e conforme o seu amadurecimento, a sofisticação e reciprocidade à idade, dinamizam a mudança de repertório em que a criança segue a brincar. O conteúdo lúdico presente nos primeiros anos são substituídos gradualmente por uma dosagem de realidade maior, sendo uma parte salutar para a apresentação de um cenário real que o jovem encontrará. Mas quando chega o final da adolescência “convencional”, em meio as primeiras responsabilidades tangentes a fase adulta, como a realização do vestibular e as primeiras atividades profissionais, a percepção do que era uma “brincadeira”, passa a ter um caráter de “distração”. O jovem formula o pensamento que se não estiver trabalhando ou estudando, ele deve se distrair.

Bom, a descompressão, ou seja, o efeito de aliviar alguma pressão, é essencial para se buscar o equilíbrio físico e mental em nossas atividades, mas conceber que a vida deve ser pautada em apenas três partes (trabalhar, estudar e distrair-se), é um reducionismo que pode deixá-la em uma sinuca de bico, e dificultar a nossa realização como seres humanos.

Podemos observar isto em canais de televisão cuja descrição sobre uma partida de futebol parece não ter fim, divagando sobre coisas que são absolutamente desnecessárias, assim como programas sobre desempenho de carro, em que o apresentador vibra tanto com a potência do veículo, design, história de sua fabricação, que o indivíduo demonstra estar submerso em coisas absolutamente sem a menor importância. Ah, também tem os programas de fofocas...

Buscar virtudes de uma forma contínua, se faz necessário para estender os bons elementos observados e postos em prática, para aqueles que de uma certa forma sucederão nossos costumes e tradições. Estas ações demandam esforços dos indivíduos, que deverão reestruturar sua distribuição de tempo não em apenas trabalhar + estudar + aproveitar a vida. Se não houver um propósito nesta reorganização das vigas mestras da própria existência, toda a mínima esperança em conter o caos que tem se instalado ao nosso redor, será definitivamente perdida. Na medida em que os indivíduos não caminham para buscar e preservar suas principais características culturais, e tampouco se preocupam em transmiti-las aos mais novos, permitimos uma espécie de atrofia no seio do desenvolvimento intelectual de nossa sociedade. Passamos figurar papéis mecanicistas, pregando o trabalho como única prioridade e a distração como renovação de energia e o estudo algo que possa aumentar o potencial para laboral e consequentemente sua melhor remuneração. Este ciclo se retroalimenta, e impede que o “ser” ganhe espaço para ser cultivado.

Os hábitos de estudar filosofia, a nossa história, as tendências modernas, a espiritualidade, o discernimento da boa música, dos elementos culturais regionais, a discussão sobre conceitos das políticas vigentes, são atualmente substituídas por amenidades das mais diversas, encontradas nas redes sociais, em aplicativos para celulares e programas de televisão com as mais variadas vulgaridades. Toda esta desorganização de pensamento, e substituições de hábitos, contribui com o cenário desolador que vimos quase diariamente nos jornais.

Como disse hoje, o Bispo Auxiliar de Aparecida, Dom Darci Nicioli, que “na base da crise política e financeira está a crise moral e a crise de valores”, pois os instrumentos para o estabelecimento da moral e do cultivo de valores estão cada vez mais em desuso, e a crise instalada atualmente é talhada de baixo para cima, ou seja, a partir do povo se estabelece a classe a política, e não o inverso.

Depois de refletir sobre estas questões, dá para estabelecer diferenças consistentes entre os interesses de uma criança, em algum desenho de bonecos, com um adulto de 40 anos que torce fervorosamente por algum time? Existe alguma diferença substancial entre o camarada especialista em bebidas destiladas, com o adolescente que joga vídeo game cinco horas por dia? E o adulto que tem uma coleção de mais de 1.000 carrinhos em miniatura, se diferencia do garoto colecionador de um álbum de figurinhas? Em suas devidas proporções, vamos utilizar o exemplo de adultos que eu citei, como pessoas que trabalham e cumprem suas obrigações como cidadãos, mas ideologicamente são tão infantis quanto às crianças.

Que os jovens sejam inclinados às reflexões importantes sobre suas vidas, e evitem de serem consumidos pelas besteiras modernas das mais intoxicantes, que têm tornado o horizonte das próximas gerações tão sem importância e estéreis. 

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