A Relação do Desejo Tríplice com os Seis Sentidos e os Seis Objetos Externos
por Marcelo Prati (Renji)
A literatura budista classifica o desejo e suas relações através dos seis sentidos, objetos sensoriais, o desejo tríplice e os três períodos de tempo.
Ou seja, os nossos receptores de estímulos:
- Olho;
- Ouvido;
- Nariz;
- Língua;
- Corpo; e
- Mente.
Somados aos objetos externos:
- Formas;
- Sons;
- Aromas;
- Gostos;
- Contatos; e
- Conceitos.
Multiplicados pelo desejo tríplice:
- O desejo de satisfação dos sentidos;
- O desejo de ser (eternalismo);
- O desejo de não-ser (niilismo).
Multiplicados pelos três períodos de tempo:
- Passado;
- Presente;
- Futuro.
Explicando de uma forma resumida o processo com um exemplo: Através da interpretação do olho vinda de um estímulo da forma, que se torna desejo de satisfação dos sentidos vinculada a uma lembrança do passado. Trocando em miúdos, a lembrança de algo que se tinha o prazer de observar e agora não existe mais, ou está fora da visão. A vontade de satisfação desse anseio cria um vínculo imaginário com o passado e sabendo que tal objeto de satisfação declinou e desapareceu, o apego àquela sensação abre as portas para o sofrimento. Ou numa outra ilustração, quando é formado na mente um conceito que é caracterizado pelo desejo de não-ser aplicado no momento presente. A base do niilismo pseudo-filosófico que se desdobra no hedonismo inconsequente. Essas combinações são o processo que leva à formação do desejo e do apego que guia inevitavelmente à insatisfação e ao sofrimento.
6 (objetos dos sentidos) + 6 (objetos externos) = 12
12 x 3 (desejo tríplice) = 36
36 x 3 (três períodos de tempo) = 108
Vale lembrar que a insatisfação não se encontra nem nos objetos e nem nos órgãos dos sentidos, mas sim na relação, na nossa própria atitude diante dos estímulos. E uma curiosidade: O juzu, o rosário budista, possui 108 contas. Sempre consciente dessa relação, entendendo que ela é vazia de essência real e não pode se sustentar, consequentemente da impossibilidade de atingir a felicidade através da busca de satisfação.
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